Protetor solar, um litro de água, calçados confortáveis, boné ou chapéu com abas para proteger o pescoço e barrinhas de cereal. Estes foram alguns dos itens recomendados para estar na mochila daqueles que se aventuraram a participar da 1ª Caminhada da Lua Cheia, ocorrida em 7 de janeiro na cidade de Santa Vitória do Palmar. Promovido pela prefeitura vitoriense, o evento foi organizado pela Secretaria de Esporte, Cultura e Turismo do município, pela empresa Caminho dos Faróis e pelo Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de Turismo da FURG.
Aos participantes, foram ofertadas duas modalidades de percurso: um mais longo, de 22 km, e outro mais curto, para os menos experientes, de 9 km. Ambos contemplam um pequeno trecho da Trilha Cassino-Barra do Chuí, integrante da Rede Brasileira de Trilhas, com 223 km de extensão.
Para quem optou por fazer o maior trajeto, a caminhada teve início nos Molhes da Barra do Chuí às 14h. Os demais, após se unirem ao primeiro grupo, partiram da região central do Balneário do Hermenegildo às 18h com destino ao Varal de Orações. Os distintos itinerários foram programados para que o circuito fosse concluído no local sugerido a tempo de se contemplar o nascimento da primeira lua cheia de 2023.
Aproximadamente 65 pessoas participaram da atividade, sendo 20 delas representantes da comunidade acadêmica do campus FURG-SVP. O percurso completo foi realizado em pouco menos de seis horas e, ao longo de toda a caminhada, os trilheiros foram assistidos por uma equipe de apoio – que contava com guias de turismo equipados com rádios, garrafas de água para hidratação dos caminhantes e caminhonetes tracionadas para eventuais resgates.
Primeiros passos
A iniciativa de promover a 1ª Caminhada da Lua Cheia em Santa Vitória do Palmar começou a ser articulada em 27 de setembro do ano passado na cerimônia de inauguração das placas de cabeceira da Trilha Cassino-Barra do Chuí no Balneário da Barra. Na ocasião, parte da equipe envolvida, na presença do prefeito Wellington Bacelo, debateu a importância de ações locais para celebração daquele circuito da Trilha. Pretendendo abranger o maior público possível, decidiu-se pela sua realização na estação do verão, período da alta temporada no litoral, e nos primeiros dias de janeiro, incorporando a simbologia mística presente nos rituais de passagem de ano.
Em reuniões subsequentes, foram definidas atribuições para cada um dos organizadores. A FURG, através do PET Turismo, ficou responsável por gerenciar as inscrições, divulgar a programação do evento nas mídias sociais do campus e efetuar o credenciamento dos participantes no dia da atividade.
Na análise da professora Lígia Dalchiavon, tutora do PET Turismo, o evento foi bem-sucedido, desde a organização até seu encerramento. Isso foi resultado, segundo ela, da cooperação entre universidade, poder público e iniciativa privada. “Parcerias assim são essenciais para o desenvolvimento de atividades turísticas. Esse envolvimento com diferentes setores traz benefícios para o comércio e para o desenvolvimento regional. A Caminhada mostrou que é possível fazer ações que não demandem muito investimento, mas quando bem organizadas conseguem dar bons frutos”.
Também para o supervisor de turismo da prefeitura de Santa Vitória do Palmar, Giovani Leão, o resultado do trabalho foi bastante satisfatório e gerou repercussões positivas. “Tivemos pessoas de Porto Alegre e de Rio Grande que vieram especialmente para esse evento e se hospedaram nos nossos balneários. Elas movimentaram a economia local, levaram fotografias e recordações da nossa cidade e compartilharam nas suas redes sociais. Para nós, que trabalhamos com o turismo, isso é fantástico”.
Exercícios para o corpo e além
Mais do que promover uma atividade física coletiva, a Caminhada da Lua Cheia de Santa Vitória do Palmar proporcionou aos participantes experiências meditativas inspiradas em práticas budistas – daí do roteiro ter incluído o Varal de Orações como destino do trajeto. Aos caminhantes, no ato de credenciamento, foram distribuídos prendedores e pequenos tecidos coloridos, alusivos às bandeiras de oração tibetanas, para que neles fossem escritas aspirações para o novo ano.
O Varal de Orações, mastro em madeira sustentado por cordas embandeiradas, está localizado 9 km ao norte do Balneário do Hermenegildo. A estrutura foi erguida no ano de 2013 pelo primeiro grupo que percorreu a Travessia Cassino-Barra do Chuí junto à Caminho dos Faróis, operadora de turismo que executa roteiros de trilhas na região. Segundo o idealizador e empresário Fernando Souza Neto, ao tremularem no vento, as bandeiras, nas cores que representam as cinco sabedorias do budismo, espalham sabedoria e boas energias ao universo e àqueles que ali as penduram.
No evento de 7 de janeiro, as práticas de meditação em grupo iniciaram no findar da caminhada. Por volta das 20h30min, todos foram convidados a mentalizar suas intenções para 2023, prendendo no varal as bandeiras que carregaram consigo ao logo da jornada. Durante o ato, alguns integrantes entoaram mantras em homenagem à Guru Purnima – festividade anual realizada nas tradições hindus e budistas ao mestres espiritais em dia de lua cheia. Ao final desse ritual, a lua, em sua completude, surgiu no horizonte e iluminou o Oceano Atlântico.
“Foi uma atividade que nutriu o coração”, resume a professora do Instituto de Ciências Humanas e da Informação da FURG, Jana Rossato Gonçalves. Para a docente, a caminhada foi um momento de entrega e de superação, tanto para o corpo quanto para a mente. Segundo ela, a diversidade da natureza, manifestada em cada passo dado, e a simbologia envolvida na ritualização das práticas budistas fizeram do evento uma experiência enriquecedora.
Sentimento equivalente é compartilhado pela estudante do curso de Turismo, Luana Barros da Silva. A jovem, que percorreu os 22 km, descreve que a experiência da caminhada foi única, muito distante de que tudo que já havia vivenciado. Sentindo-se conectada à natureza, relata que superou o cansaço e esporádicas dores nos pés com o apoio emocional do namorado, que esteve em sua companhia. Ao completar o percurso, informa que desejou a si e às pessoas próximas sabedoria espiritual, financeira e emocional.
Já para a professora Lígia Dalchiavon, percorrer os 9 km da caminhada que ajudou a planejar foi uma conquista pessoal e profissional. “O sentimento é de gratidão por ter conseguido concretizar uma ideia, que nasceu da implementação de outro projeto, e poder contribuir para que mais pessoas conheçam nossa região, que é muito rica”. No relato da docente, o exercício coletivo e autorreflexivo desempenhado junto ao meio ambiente foi transformador. “Foi muito bonito fazer parte daquele momento que, ao mesmo tempo, é tão intimista, no qual conversamos com nós mesmos, mas que também ocorre em comunhão, com pessoas compartilhando seus sentimentos. Fiquei bem emocionada e agradecida por ter feito a caminhada e colaborar com a realização do evento”.
Futuros caminhares
Diante da boa receptividade da 1ª Caminhada da Lua Cheia na região, uma segunda edição está sendo considerada. De acordo com a organização do evento, a intenção é dobrar a capacidade de público e inserir outras atividades ao circuito, tornando o evento ainda mais dinâmico e atrativo.
