EVENTOS EXTREMOS

FURG realiza instalação de linígrafos na costa da Lagoa dos Patos

Atividade integra plano de ações do CIEX para monitoramento em tempo real do nível da água

Photograph: Hiago Reisdoerfer/Secom

Debaixo de um sol quente, dividindo um pequeno bote, do tipo caíco, dois pesquisadores da FURG realizam a instalação de um sensor de monitoramento na praia de Arambaré, enquanto eu registro de perto todo o processo. A estrutura é fixada nas ruínas de um antigo trapiche a aproximadamente 20 metros da faixa de areia, que foi destruído durante a grande enchente de 2024. Este é o segundo dia de atividades no município, que fica situado a 33 quilômetros de Camaquã.

No local existem quatro réguas instaladas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), mas que demandam leituras manuais. Para aumentar a confiabilidade e possibilitar o monitoramento em tempo real da situação na orla, a FURG, por meio do Centro Interinstitucional de Observação e Previsão de Eventos Extremos (CIEX), iniciou o processo de instalação de uma rede de linígrafos na costa da Lagoa dos Patos neste último sábado, 31 de maio.

A ação envolveu pontos estratégicos para o acompanhamento da situação do nível da água ao longo dos municípios que são banhados pela Lagoa, começando por São Lourenço do Sul. No domingo, 1º de junho, a equipe se deslocou para a cidade de Arambaré, onde, durante dois dias, instalou uma estação de monitoramento completa, com sensor, câmera, hub de internet para a transmissão de dados e alimentação solar.

A missão foi conduzida pelos técnicos de laboratório do Centro de Ciências Computacionais (C3), Cedenir Borges e Everson Flores; e pelo bolsista Lucas Côrrea, acompanhados pelos professores do C3: Glauber Gonçalves e Vitor Gervini.

Mas o que são linígrafos?

Na prática, um linígrafo é um medidor automatizado que registra continuamente as variações na altura da lâmina d’água de um corpo como rios, lagos e lagoas. O Ciex realiza a instalação de duas maneiras, uma delas por meio de um sensor, acoplado a uma estrutura que atenua o movimento das águas, eliminando variações nos dados provenientes de ondulações e outros comportamentos semelhantes; e outro modelo por meio da instalação de uma câmera, posicionada em frente a uma régua referenciada.

Ambos os modelos fornecem informações confiáveis para monitoramento, mas o grande diferencial está não só na confiabilidade e alta precisão dos dados obtidos, mas na rastreabilidade em tempo real dessas informações. Em um cenário de eventos extremos, tanto de enchente quanto de estiagem, o linígrafo se torna essencial na gestão de riscos e no planejamento de estratégias. Ao fornecer informações precisas e atualizadas, ele permite antecipar situações de emergência, ajudando a proteger vidas, infraestruturas e ecossistemas.

No caso da Lagoa dos Patos, sua importância é ainda mais vital

Sofrendo diretamente os impactos das mudanças climáticas, a Lagoa dos Patos recebe águas de vários rios do Estado, como o Jacuí, o Camaquã e o Guaíba, além de ser afetada por ventos, marés e fenômenos como ressacas e inundações costeiras. Com linígrafos instalados em pontos estratégicos ao longo do corpo d’água, é possível realizar previsões muito mais precisas, mas não só isso, é possível mobilizar a sociedade civil com muito mais rapidez e eficiência diminuindo impactos também para a navegação, a pesca, a agricultura e outras atividades fundamentais para a economia local.

De acordo com a coordenadora do Ciex, Elisa Fernandes, os dados de nível, além de fornecer um diagnóstico instantâneo do comportamento da Lagoa, permitem a validação das previsões do modelo hidrodinâmico do LOCOSTE, amplamente utilizado durante o evento de maio de 2024. Os dados e os resultados das previsões apoiam políticas públicas, planejamento urbano e estratégias de adaptação climática, tornando as comunidades costeiras mais resilientes frente às incertezas das mudanças climáticas.

“Com a experiência vivida durante as enchentes de maio de 2024, ficou evidente que precisávamos estar melhor preparados para futuros eventos extremos, e para isso, precisamos qualificar dados e informações, operacionalizar os modelos de previsão, qualificar pessoas e profissionalizar as ações de enfrentamento aos eventos”, explica a professora.

Em tempos de crise climática, informações precisas podem significar a diferença entre uma resposta eficiente e a perda de vidas e patrimônio. Mas apenas a tecnologia de ponta e recursos humanos de excelência não são suficientes; é preciso mobilização entre instituições de ensino e pesquisa, forças de segurança, prefeituras, defesa civil e os agentes de toda a comunidade. E é pensando nisso que surge o Ciex.

Centro Interinstitucional de Observação e Previsão de Eventos Extremos

Capitaneado pela FURG e com o apoio de mais de 28 instituições da Quádrupla Hélice (Universidades, Poder Público, Setor Produtivo e Sociedade Civil Organizada), o Ciex é um projeto financiado pela Fapergs, concebido em 2024 após a grande enchente de maio. De acordo com Elisa, a ideia do Centro surgiu para qualificar o trabalho desenvolvido pela Universidade durante aquele evento, ao longo de mais de 22 dias ininterruptos de trabalho de campo, monitoramento e publicação de relatórios que foram fundamentais para a mitigação dos impactos causados pelas águas nos municípios onde a FURG se faz presente.

Neste modelo atualizado, o Ciex conta com três instituições colaboradoras: Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e a multinacional Pix Force, que utiliza Inteligência Artificial e Visão Computacional para transformar operações tradicionais em processos inovadores, eficientes e seguros. Além disso são mais de 20 instituições apoiadoras, incluindo prefeituras municipais, defesas civis, representantes sindicais, organizações do setor produtivo, portuário, policiais e de pesquisa.

A iniciativa é financiada tanto por mecanismos de fomentos como a Fapergs quanto por usuários do ambiente, como a Portos RS. Todos os dados gerados ao longo dos municípios monitorados são processados diretamente na sede do Ciex, localizada no Cidec-sul.

Ainda de acordo com Elisa, o Centro atuará por meio de um ambiente virtual inovador baseado em conjuntos de dados meteorológicos, oceanográficos e geodésicos combinados com modelos numéricos e métodos de inteligência artificial que fornecem uma réplica virtual do ambiente natural da Lagoa dos Patos e municípios às suas margens, chamado de Digital Twin Lagoa dos Patos (DT – LAGOA).

“A combinação dos seus resultados com a aplicação de processos informacionais e comunicativos será de fundamental importância para a integração da academia com a comunidade, Forças de Segurança, Prefeituras e Defesas Civis da região através do acesso qualificado às informações das redes de monitoramento e sistemas de previsão, fornecendo informações importantes para uma tomada de decisão mais abrangente e precisa, contribuindo para a segurança da sociedade, economia, governança, mobilidade, qualidade de vida e meio ambiente”, destaca Elisa.

Em seguida, a equipe continuará a instalação da rede linígrafos em outros pontos estratégicos ao longo da Lagoa dos Patos. Continue atento ao portal FURG.br para mais informações sobre a Rede de Monitoramento de Nível da Lagoa dos Patos (RMN – Patos).

 

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Hiago Reisdoerfer/Secom