DIA MUNDIAL DA SAÚDE

Da sala de aula para o mundo

Selecionados pelo Kids Save Lives, estudantes da Famed repassam técnicas de primeiros socorros a alunos da rede pública

Photograph: Arquivo Pessoal

"Não é somente sobre salvar pessoas. É sobre criar uma cadeia de solidariedade e amor". Assim, a paranaense Hellen Azevedo, estudante do 3º ano da Faculdade de Medicina (Famed), resume a sua participação em um projeto internacional com a chancela da Organização Mundial da Saúde. Ela e outros seis colegas encontraram no trabalho voluntário a chance de multiplicar os conhecimentos adquiridos nas salas de aula da FURG.

Selecionados pelo projeto internacional Kids Save Lives, ou "Crianças Salvam Vidas", os acadêmicos estão sendo preparados para repassar técnicas de primeiros socorros a estudantes de 9 a 16 anos da rede municipal rio-grandina. Com o treinamento interrompido pelo agravamento da pandemia, os monitores aguardam a hora de retomar as atividades.

A professora e fisioterapeuta Priscila Aikawa é a coordenadora do projeto junto à Famed. Ela conta que os universitários são responsáveis por capacitar os alunos da rede pública a efetuar intervenções em casos de parada cardiorrespiratória e outras situações. Com frequência semanal, o treinamento vinha sendo realizado às sextas-feiras, com o objetivo de prepará-los para casos de emergência e incentivá-los a passar adiante o conhecimento adquirido. "Os alunos dos primeiros anos da Medicina ainda não tiveram experiência com essas manobras, e se mostram muito interessados em frequentar salas de aula e laboratórios práticos. É uma motivação a mais, não apenas na prática profissional. Trata-se de um projeto de extensão riquíssimo em sua importância para a comunidade, e que garante um aprendizado excepcional para a formação médica", avalia a professora.

Os futuros médicos irão atuar em treinamento a crianças para que elas reconheçam situações de AVC agudo, parada cardiorrespiratória não-traumática, infarto agudo do miocárdio, afogamento e engasgo total no adulto, na criança e no bebê. São ações de educação para leigos desenvolvidas no mundo inteiro com potenciais benefícios à população. "Muitas vezes, até a chegada do SAMU, é possível minimizar sequelas neurológicas através da aplicação dessas técnicas em situações de socorro", observa a professora Priscila. Uma das recomendações da OMS, inclusive, é de duas horas de treino de ressuscitação cardiopulmonar por ano a crianças a partir dos 12 anos, em todas as escolas do mundo.

Entre os participantes da FURG, a sensação é de dever cumprido. "Participar do projeto Kids Save Lives abriu a perspectiva do que é atuar na medicina fora do ambiente hospitalar e ambulatorial. Não é somente adquirir a técnica por meio de treinamentos e ressuscitação cardiopulmonar. É sobre ensinar e conscientizar. É formar cidadãos capazes de olhar ao próximo e ajudá-lo em uma situação de emergência", relata a acadêmica Hellen. "Com o Kids Save Lives, aprendo também com as crianças que, de forma tão simples, conseguem ser profundas e verdadeiras. É um efeito dominó: mais pessoas conhecem sobre essas técnicas, e isto pode aumentar as chances de vida de pessoas resgatadas que chegam ao hospital, que é onde nós estamos", completa a estudante, que pretende atuar nas áreas da medicina da família ou oncologia.

O treinamento direto com as crianças ainda não teve início, o que deverá ocorrer apenas quando houver o retorno presencial do calendário do município, com os devidos protocolos de segurança. Para facilitar a logística, a coordenadora explica que o projeto irá contemplar inicialmente as escolas mais próximas do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. (HU-FURG/Ebserh), "mas vamos estendendo a área conforme o maior número de escolas municipais conseguirmos atingir". Com a bandeira preta, os encontros presenciais entre os estudantes da Famed também tiveram de ser suspensos no prédio do HU.

O Kids Save Lives começou em 2012 e chegou ao Brasil em 2018. A FURG é a única instituição de ensino selecionada para desenvolver as atividades no Rio Grande do Sul. O projeto também conta com a adesão de 22 alunos da Universidade de São Paulo (USP). E as aulas teóricas não pararam: uma vez por semana, os acadêmicos e docentes das duas universidades analisam em conjunto artigos científicos que incluem relatos do aprendizado de crianças em manobras de ressuscitação cardiopulmonar. Discutem ainda, entre outros temas, metodologia científica e bioestatística para execução de trabalhos na área de saúde.

 

 

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Estudantes de Medicina passam por treinamento para multiplicar conhecimentos adquiridos na FURG

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