EDUCAÇÃO

Caic: um lugar de pertencimento

Centro completa 25 anos de relacionamento com a comunidade

Photograph: Fernando Halal/Secom

O Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic) é uma unidade da FURG ligado à Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) que desenvolve ações extensionistas, em consonância com a Política de Extensão da Universidade nas áreas da Educação e Saúde. Através de convênios com a Prefeitura Municipal do Rio Grande, funciona dentro do Centro a Escola Municipal Cidade do Rio Grande.

“O Caic, ao longo de seus  25 anos, se consolidou como um centro potente de extensão, propiciando à comunidade a que atende, caminhos e possibilidades de crescimento pessoal e profissional, onde se reconhecem como sujeitos ativos de suas histórias.  Para além de um espaço de aprendizagem temos um espaço de solidariedade, de  coletividade  e de democracia onde todos tem representação. Estar no Caic nos desafia cotidianamente a sermos mais corajosos, mais criativos e certamente muito mais humanos”, afirma a diretora do Caic, Liane Orcelli Marques.

Com uma proposta de gestão compartilhada entre a FURG e a Prefeitura, o Centro atende em torno de 800 alunos, em sua maioria oriundos de comunidades com vulnerabilidade socioeconômica, desde a Educação Infantil, até o Ensino Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Gestores, professores, alunos, familiares e estagiários envolvidos com as diversas frentes de atuação do Centro são chamados carinhosamente de comunidade caiqueira, que neste ano de 2019 está em festa pela comemoração dos 25 anos do Caic.

O Caic tem grande importância e significado para muitas pessoas que por lá passaram. E neste momento de comemoração, gostariam de parabenizar a instituição pelos seus 25 anos. Acompanhe no vídeo abaixo.

Para celebrar a data, contamos a seguir duas histórias que representam o significado do Centro para aqueles que passaram pelo Caic enquanto estudantes, e que hoje são pessoas que atuam ou sonham em atuar no Centro, para assim retribuir o aprendizado que lá tiveram.

Uma vida dentro do Caic

Juliana Silva é vice-diretora da Escola Municipal Cidade do Rio Grande no turno da manhã e tem toda sua trajetória estudantil e profissional vivida dentro do Centro. Ela se formou em 2002 no Ensino Fundamental; em 2007 voltou ao Caic como bolsista do curso de Pedagogia; no ano de 2011 assumiu como pedagoga social; dois anos depois como professora do município e desde 2018 está ocupando o cargo de vice-diretora.

Sobre sua trajetória dentro do Caic e da forma como percebe os espaços com o passar do tempo, Juliana diz que, “enquanto estudante, o Caic era um lugar bom de estar, eu fazia parte do coral, das aulas de informática, artesanato, todos os projetos que tinha eu participava. Quando voltei como bolsista foi mais difícil, porque eram os mesmos professores e os espaços muito próximos. Mas agora como profissional, eu vejo como esse lugar é importante para a comunidade, seja como fuga da vida difícil que tem, ou como espaço de prazer, esperança e de outras possibilidades. Então, hoje estar na gestão do Caic quando ele completa 25 anos, é muito importante para mim, pois percebo o quanto ele é referência para a comunidade”, destaca Juliana.

 

O que é ser Caic

O Centro tem por característica própria ser um lugar de inúmeras atividades como a educação, o atendimento à saúde e a extensão, através de projetos que inserem seus alunos no mercado de trabalho e também como espaço de atuação para os estudantes da FURG.

Dessas inúmeras ações realizadas no Caic, ganham destaque aquelas feitas com e para a comunidade. “Eu percebo que quando a comunidade está aqui dentro da escola isso é muito importante, pois vemos pertencimento. Todos somos Caic, não só professores e alunos. Como por exemplo, quando realizamos a Mostra Artística e Cultural do Caic (MAC), que vemos o Cidec lotado pela comunidade que vai prestigiar a apresentação dos estudantes, ou quando fazemos a Flic, que é nossa Feira Literária. O Caic é acolhedor não só para os profissionais, mas também para as famílias. Assim, quando realizamos atividades que juntam os profissionais do Centro, mais a comunidade, é onde a mágica acontece”, afirma ela.

Crescimento

Atualmente o Centro conta com cerca de 100 profissionais, uma assistente social, cinco coordenadoras pedagógicas e uma coordenadora de projetos e estágio. Segundo a direção do Caic, nos últimos cinco anos houve um crescimento significativo no atendimento à comunidade com a abertura de cinco turmas de Educação Infantil e com a expansão do EJA, uma meta do Congresso do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Concaic), apontada pela própria comunidade. Além disso, o posto de saúde aumentou o atendimento e qualificou a assistência a pessoas diabéticas e às gestantes.

FURG no Caic

Para Juliana a parceira com a FURG vai além de manter o Centro. Ela avalia que a universidade representa para a comunidade a esperança de ingressar no ensino superior, além de conseguir, muitas vezes, colocar em prática os projetos planejados.

A vice-diretora ressalta também que o Caic semeia profissionais pela universidade. “Temos muitos profissionais que estão na FURG, mas que já passaram pelo Centro, e isso faz com que estejam sempre lembrando de nós, porque, como gostamos de dizer, uma vez caiqueiro, sempre caiqueiro”.

Futuro

Sobre como se vê no futuro, Juliana diz que “é difícil pensar nisso, porque quando eu era aluna eu não imaginava que hoje seria uma profissional do Centro. Eu penso que o Caic vai crescer mais, a parte da extensão da universidade vai acontecer aqui. Atender a comunidade com projetos extras, algo que faz parte de nossa criação, mas que hoje é menos ofertado devido à falta de recursos. Eu vejo o Caic com uma área da saúde atendendo ainda melhor as pessoas. E que estaremos bem colocados nos índices da Educação Básica”, projeta ela.

“Eu espero estar aqui daqui a 25 anos. O Caic vai ser um lugar de exemplo, porque tem profissionais que pensam e fazem para a comunidade, e isso é nosso diferencial. As famílias sentem esse respeito e nos devolvem esse sentimento, e assim, construímos juntos. Eu vivo intensamente o Caic”.

Caic como lugar de formação

A segunda história é do estudante Andrês Santos dos Santos de 20 anos. Sua passagem pelo Caic ajudou na escolha da profissão e também na vontade de retribuir tudo o que aprendeu. Ele cursou todo o Ensino Fundamental no Caic e a partir da 8ª série fez parte do Acreditar é Investir - projeto de trabalho, mas também educativo, que teve início em 1997, através de uma parceria entre o Centro e a FURG. O projeto é um espaço em que os estudantes desenvolvem atividades como bolsistas em unidades da FURG, mas que tem como prioridade a continuidade dos estudos.

Antes de ingressar no Acreditar é Investir, o estudante participou das diversas ações do Programa Mais Educação, Andrês realizou atividades extracurriculares, como artesanato, laboratório de línguas e culinária, até a 7ª série. Hoje o jovem está no primeiro ano do curso de Artes Visuais Licenciatura, e percebe a grande importância do Caic e de seus projetos para sua formação. “O Caic ajudou na minha formação, pois foi ali que tive minhas primeiras experiências de vida. Além disso, por estar próximo da universidade, ele me abriu portas, como o projeto Acreditar é Investir no qual fui beneficiado. Com o projeto melhorei minha fala e também minhas notas, pois para participar era necessário ir bem na escola. Assim, no momento em que entrei para o projeto precisei manter uma postura certa, e isso me ajudou muito”, relembra o estudante.

Oportunidades

Andrês conta como essa oportunidade o ajudou na descoberta da profissão, “no projeto eu trabalhava no turno inverso dos meus estudos. Fiz estágio na Diretoria de Arte e Cultura (DAC) e com o passar do tempo passei a me interessar pelo audiovisual e acabei conhecendo pessoas que trabalhavam com isso e que me ajudaram. Hoje, meu estágio é na Secretaria de Comunicação Social (Secom) e sigo trabalhando com o audiovisual, que foi a área que despertou meu interesse desde a época da escola”, conta ele.

Memórias e Futuro

Sobre o tempo em que esteve no Caic, Andrês relata que tem boas lembranças. “Minha memória é de um colégio bom, era meu universo. Como eu passava muito tempo lá dentro, eu tenho mais recordações do Centro do que da minha própria casa. Eu convivia com todos, são como se fossem minha família”, afirma o jovem.

Sobre o significado que o Caic tem para ele, diz: “chegar à escola e poder ter comida, uniforme, professores que querem te ajudar e te ensinar, projetos que te ajudam a crescer e a descobrir uma profissão, é o diferencial do Caic. Até podemos ter uma família que não dê apoio, que não está contigo, mas se tu tiveres um colégio ele faz esse papel, isso com certeza fará diferença no futuro e o Caic fez a diferença no meu”.

Sobre o futuro, o estudante conta que pretende retribuir o que aprendeu. “Quero ser professor, pois eu acho muito egoísmo da minha parte ter aprendido tudo isso, e não repassar para as pessoas. Eu tive essa oportunidade e pretendo retribuir isso, quero ser como os professores que me ensinaram. Está na hora de retribuir. Quero fazer esse círculo vicioso do bem, que é a educação. Quero poder devolver tudo que aprendi para o Centro e para os mais novos que estão lá, que assim como eu, têm no Caic o lugar da possibilidade de mudar de vida”.

Comemorações

O pontapé inicial das comemorações dos 25 anos do Centro foi dado na 46ª Feira do Livro da FURG, onde aconteceu a exposição de projetos já realizados no Caic. Ao longo do ano estão sendo construídas com os professores atividades dentro da sala de aula e nos espaços do Centro. A Feira Literária que aconteceu em agosto serviu para resgatar as histórias e memórias e a Mostra Artística e Cultural do Caic, em dezembro, será o ponto alto e final das comemorações. “Neste ano os projetos pedagógicos trarão um resgate histórico. Assim, conseguiremos costurar, através das atividades desenvolvidas pelos professores com seus alunos, a história do Caic, onde cada turma realizará apresentações de acordo com seu perfil”, conta Juliana.

 

 

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Ex-estudante do centro, Andrês Santos hoje cursa Artes Visuais na FURG

Fernando Halal/Secom