HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Deputada Laura Sito realiza lançamento do projeto RS Antirracista na FURG

Parlamentar gaúcha estará em Rio Grande na quarta-feira, 24, em série de atividades

A deputada Laura Sito realiza na quarta-feira, 24, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) o lançamento do projeto RS Antirracista, incluindo lançamento da cartilha Educador Antirracista e do livro General Manoel Padeiro e Quilombo da Liberdade. Será às 16h, no Auditório do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI), no Prédio do curso de Psicologia, no Campus Carreiros. O evento é aberto à comunidade em geral e envolve a Secretaria de Ações Afirmativas, Inclusão e Diversidades (Secaid/FURG).

Pela manhã, o lançamento ocorre em Pelotas, às 9h, no auditório da Secretaria Municipal da Educação e, às 11h, na Universidade Federal de Pelotas (UFpel), no Campus Anglo. O projeto nasceu do compromisso de enfrentar o racismo no Rio Grande do Sul e de valorizar a contribuição histórica, cultural e social do povo negro por meio da educação. "Quando fui eleita deputada em 2022, fui a primeira mulher negra eleita deputada no Estado do Rio Grande do Sul. E nós pensamos muito, essa primeira bancada negra que chegaria na Assembleia, quais deveriam ser os desafios dela, do ponto de vista não só de representar os anseios da população em geral, não só os anseios também do povo preto, mas também no sentido das ações de reparação", explica. "E nós compreendemos que a reparação não tange só ao ponto das políticas públicas, mas também da memória, porque é ela que constrói outros padrões das relações sociais e étnico-raciais no nosso país", completa.

A deputada, que é jornalista e também cursou seis semestres de História, começou a pensar quais seriam os elementos constitutivos da construção narrativa do povo negro do Rio Grande do Sul. "O Rio Grande do Sul só tem um herói não branco, que é o Sepé Tiaraju, representando a resiliência do povo indígena nesse estado. E a própria cultura gaucha, pampeira, que é muito presente com o povo indígena aqui, não só no Rio Grande do Sul, mas no Uruguai e Argentina. Nós [pensamos] vamos rememorar a memória do povo negro no nosso estado. Chegamos à conclusão que o maior líder quilombola gaúcho, Manoel Padeiro, que viveu na região sul do nosso estado, próximo à região de Pelotas, que chegou a ter um quilombo que, na época, abrigou, 20 mil pessoas, chegou a passar pelo quilombo 20 mil pessoas refugiadas do sistema escravocata, ele também deveria estar retratado na história do Rio Grande do Sul".

O RS Antirracista busca garantir a efetivação da Lei Federal 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana nas escolas. O projeto tem como objetivo a realização de debates, formação e articulações com professores e estudantes nas escolas, fornecendo materiais pedagógicos, como as duas publicações. Voltadas ao público escolar e em geral, as obras contribuem para o ensino da história e da cultura afro-brasileira.

O projeto e as obras estão sendo lançados neste mês de setembro em diferentes cidades do Rio Grande do Sul, dentro das comemorações da Semana Farroupilha. A intenção é resgatar a verdadeira história do povo gaúcho. "Optamos por lançar na Semana Farroupilha, porque é exatamente o momento em que a gente para olhar, refletir e contar para as novas gerações a história do povo gaúcho que tanto nos orgulha, mas que nós também precisamos agregar a essa narrativa histórica os elementos que trazem a diversidade da composição cultural do nosso povo gaúcho. Por isso, optamos por fazer o lançamento nesse semana tão emblemática, de canto a canto, em cada rincão do Estado", conta a deputada.

A série de lançamentos pelo Rio Grande do Sul iniciou na última quarta-feira, 17, no Piquete Pêlo Escuro, no Acampamento Farroupilha, no Parque Harmonia, em Porto Alegre. Na sexta-feira, 19, foi a vez de Santana do Livramento receber as ações de lançamento, no Auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul).


Sobre as publicações

As obras foram produzidas pela Assembleia Legislativa e têm distribuição gratuita pelo mandato da deputada. São instrumentos de fortalecimento de professores, valorização da contribuição do povo negro e transformação da escola em espaço de inclusão e combate ao racismo. A deputada fala sobre os resultados esperados: "a autoestima, o pertencimento... Permite a autonomia de compreender as nossas origens, que, por conta do nosso sistema escravocata não temos essa perspectiva muito nítida, especialmente para nossas crianças. É um instrumento para que agente possa estar trabalhando a memória da nossa sociedade."

A cartilha Educador antirracista é uma ferramenta de enfrentamento ao racismo estrutural e institucional dentro do ambiente escolar. Traz referências históricas e culturais, conceitos e consciência crítica, auxiliando professores a trabalharem a temática antirracista no ambiente escolar. Reconta a história da população negra a partir da perspectiva de quem historicamente foi silenciado e fornece subsídios para a construção de diagnósticos e planos de ação que possibilitem o enfrentamento ao racismo e a promoção de um ambiente verdadeiramente antirracista em todas as suas dimensões. Também contribui para a formulação de políticas públicas eficazes e para a ampliação do acesso equitativo aos seus benefícios.

O livro General Manoel Padeiro e Quilombo da Liberdade conta a história de Manoel Padeiro, líder quilombola, primeiro herói negro do Rio Grande do Sul. Escrito pela professora Tânia Rodrigues Tibério e ilustrado por Alisson Affonso, com projeto gráfico de Everton Cosme, o livro dá visibilidade à história do quilombola que liderou um dos maiores levantes contra a escravidão no Rio Grande do Sul, na década de 1830, e se tornou símbolo de resistência popular. "Fizemos o projeto de lei para o reconhecimento do primeiro herói negro gaúcho, Manoel Padeiro, foi aprovado em 2023 pela Assembleia Legislativa por unanimidade, o reconhecimento dele como herói gaúcho, o primeiro homem negro, o primeiro cidadão negro reconhecido como herói. Resolvemos fazer uma publicação, um instrumento capaz de ser apresentado nas escolas. Fizemos com o Alisson Affonso, ilustrador, aí de Rio Grande, um homem negro, descendente, portanto, dessa resistência na região. É uma ilustração que ficou lindíssima e que permite, de maneira muito lúdica, que a gente possa trabalhar com crianças e adolescentes", reforça a deputada.

Egressos do curso de Artes Visuais Bacharelado da FURG, os artistas rio-grandinos Alisson Affonso e Everton Cosme contaram como foi participar do projeto. Alisson Affonso explicou que já estava imerso no universo e alfabeto das lutas extraordinárias do personagem pela vida e liberdade por conta de outro trabalho em torno do tema. "O convite para ilustrar essa obra é uma chance de fazer parte do resgate de uma história tão acobertada nos livros de História do Rio Grande do Sul e do Brasil". Segundo o artista, "caminha ao lado da imensa honra da participação nesse trabalho, a imensa responsabilidade de dar formas e cores em um período em que os registros imagéticos dos acontecimentos são precários".

Para chegar a um resultado tão rico em detalhes, Alisson Affonso conta como foi a pesquisa. "Fiz algumas leituras dos registros encontrados em cartórios, a grande maioria em um tom de denúncia sobre os ataques do bando em fazendas, além de buscar outras obras do tempo através dos apontamentos do artista Rugendas e outros registros importantes da época", destaca.

Para a deputada Laura Sito, um desafio vencido com sucesso. "O Manoel Padeiro viveu até 1848. Qual é esse rosto? Qual é essa cara? O traço, as características das obras do Alisson, nos permitiu trazer inclusive esse pertencimento de ser um homem negro do sul do nosso estado, de ter essa vivência, de ter essa origem e de poder evocar, a partir do seu traço, da sua arte, a cara de quem é o primeiro herói negro gaúcho, Manoel Padeiro".

Everton Cosme afirma ser muito satisfatório integrar um projeto "que busca, por meio da arte, resgatar um personagem de incontestável relevância histórica, vítima do apagamento pelas 'vozes' oficiais'". Para ele, o uso de métodos tradicionais é um diferencial. "Em tempos tão efêmeros, marcados pela inteligência artificial e pelas microrrelações, participar de uma iniciativa que se vale de métodos tão belos e tradicionais, como a contação de histórias e a ilustração em aquarela, é a certeza de estar fazendo a coisa certa. É, também, contribuir humildemente para a afirmação de uma identidade cultural rica, que alcança crianças, jovens e adultos de maneira potente".

A obra fortalece o Projeto de Lei 86/2023 aprovado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, de autoria da deputada, e que eterniza a memória do líder quilombola no calendário oficial do Rio Grande do Sul. Com a aprovação, Manoel Padeiro foi declarado Herói Rio-Grandense e o 16 de junho foi instituído como data oficial de celebração à sua memória.

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