Passado o período de transição entre gestões, de Danilo Giroldo a Suzane Gonçalves, o trabalho efetivo da atual reitoria da FURG, com mandato vigente de 2025 a 2028, começou no dia 15 de janeiro, quando foram empossados todos os profissionais que ocupam cargos na equipe administrativa da FURG , engajados na missão de desenvolver as propostas de governança anunciadas em campanha ao longo da consulta pública no ano passado e reiteradas no primeiro discurso oficial da reitora, na cerimônia de posse.
Reforçar a identidade multicampi; dialogar mais com a comunidade externa; pensar a Universidade como espaço de produção de conhecimento e também de inovação social cada vez mais acessível e inclusivo foram tópicos destacados na fala da gestora que sinalizam os rumos que a FURG deve seguir nos próximos anos: “Vamos avançar no debate sobre a política de flexibilização curricular e inovação. Vamos trabalhar para transversalizar a inovação para os diferentes campos do saber. Fortaleceremos as ações de tecnociência solidária. Criaremos a Coordenação de Relações Interinstitucionais. Trabalharemos para estreitar os laços entre a Universidade e a sociedade, buscando parcerias que nos permitam gerar conhecimento aplicado, que promova o desenvolvimento local, regional e global, e que seja capaz de impactar positivamente a vida das pessoas”, disse Suzane.
Mais do que acenar ao público com um plano de ação, a reitora reafirma o posicionamento de sua gestão ao, juntamente com o vice-reitor Ednei Primel, escalar para o comando das pró-reitorias e postos assessores imediatos um time que denota compromisso com a paridade de categorias e de gêneros. Além da chefe de gabinete, Camila Estima, do assessor da reitora, Mozart Tavares Filho, e da secretária-geral da Secretaria dos Conselhos Superiores, Bruna Coi, quatro técnicos-administrativos em Educação (Taes) — Elenise Ribes, na Pró-reitoria de Planejamento e Administração (Proplad); Débora Amaral, na Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proexc); André Lemes, na Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae); e Márcio Brito, na Pró-reitoria de Gestão de Pessoas (Progep) — e quatro docentes — Rafael Paes, na Pró-reitoria de Infraestrutura (Proinfra); Simone Freire, na Pró-reitoria de Graduação (Prograd); Daiane Dias, na Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propesp); e Silvia Botelho, na Pró-reitoria de Inovação e Tecnologia da Informação (Proiti) — formam o grupo de pró-reitores. Pela primeira vez, a Proplad e a Propesp serão dirigidas por servidorAs.
Resiliência e esperança como estratégia
As universidades públicas brasileiras ainda não se recuperaram dos imensos desafios enfrentados nos últimos anos, principalmente dos que dizem respeito às questões orçamentárias. Segundo a reitora, inserida nesse panorama de restrições, a FURG demonstra sua capacidade de resiliência diante das dificuldades, e o modo de enfrentamento do cenário adverso passa pela articulação das pró-reitorias e por alinhamento numa mesma direção.
Ensino, pesquisa, extensão, memória, números, dados, prédios, resultados. A Universidade se faz de tudo isso, mas antes é feita de gente, de ponta a ponta, do bixo ao egresso, incluindo gestores. Gente com histórias, vínculos, contrariedades e apostas, equívocos e acertos, esperanças — de “esperançar”, na acepção freireana, como citou a reitora em sua posse — na FURG de agora. Sumo de experiências que o olhar estratégico dessa gestão considerou ao estabelecer não apenas metas e ações prioritárias das pró-reitorias, mas os profissionais titulares de cada uma delas.
A Proiti, por Silvia Botelho
A Pró-reitoria de Inovação e Tecnologia da Informação (Proiti) é a mais recente a ser criada na estrutura administrativa da FURG. O propósito dessa pró-reitoria é promover a inovação nas atividades acadêmicas e administrativas mediante o aprimoramento dos sistemas e tecnologias da informação, e ampliar os mecanismos de transferência de tecnologia para sociedade em articulação com os ambientes de inovação da Universidade. As iniciativas de inovação e empreendedorismo da instituição se dão através do Parque Científico e Tecnológico (Oceantec), da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Innovatio), do Centro de Gestão de Tecnologia da Informação (CGTI) e da Unidade Embrapii (iTec/FURG). À frente da Proiti, a professora Silvia Botelho conta dos compromissos do setor que dirige e da própria relação com a Universidade.
Após os anos 2000, de acordo com Silvia, a humanidade entra de vez na Era da informação, e administrar essa informação é o cerne do sucesso dos empreendimentos pelo mundo todo. Na Universidade, o principal responsável por isso é o Centro de Gestão de Tecnologia da Informação (CGTI) — antigo Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI). Segundo a pró-reitora, pensar a gestão da informação na FURG, e esse pensamento estratégico ser executado pelo CGTI, está relacionado com inovação e é parte fundamental do trabalho da pró-reitoria. “No final, tudo vira informação, e as novas ideias com relação a essa informação, a inovação, são papel também da Proiti”, diz.
Dentro do projeto da nova gestão e considerando o contexto das universidades do país, a pró-reitora assume, então, uma Proiti com três prioridades: promover iniciativas que efetivamente resolvam problemáticas sociais; estabelecer um espaço formativo em que o estudante consiga, junto à demanda real, dar sentido aos conteúdos vistos em sala de aula; e ser um espaço de educação empreendedora a todos os estudantes, independente do curso em que estejam matriculados.
“A ideia é que a gente identifique problemas reais, que necessitem de conhecimento nessa sociedade, nesse setor produtivo, nessas empresas, nesses órgãos públicos, e fomente ações que permitam a FURG se aproximar, oferecendo soluções”, explica a professora. Abordar problemas sociais de modo transversal e interdisciplinar cria o ambiente formativo propício para “catalisar os conteúdos, os aprendizados deles nas mais diferentes áreas e próprias a cada uma das disciplinas nas quais o estudante está constituindo a sua formação e, também, de uma forma mais específica, trabalhar as questões da educação empreendedora desse aluno como protagonista da sua vida profissional, que está por vir”, propõe.
Quem é a pró-reitora?
Minha história com a FURG começa faz muito, muito tempo. Eu entrei na FURG, fiz concurso tinha 21 anos. Estou há mais de 30 como docente. Eu era a docente mais nova da sala de aula. Mais nova que todos os estudantes. Iniciei no Departamento de Física — eu sou engenheira eletricista, com mestrado e doutorado em computação e robótica. Comecei lá dando aula de eletricidade, depois participei da criação do Centro de Ciências Computacionais (C3), da criação do Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional, da criação do curso de Engenharia de Automação, do curso de Engenharia de Sistemas de Informação, do Programa de Pós-Graduação de Educação em Ciências, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Oceânica, do Programa de Pós-Graduação em Computação, enfim, participei da criação de muitos cursos de graduação e pós-graduação.
Participei da direção do C3 durante 12 anos, oito como vice-diretora e quatro como diretora. Trabalhei em muitos projetos, projetos com empresa, com prefeitura, com concessionárias de energia, com óleo e gás, orientei muitos alunos de mestrado e de doutorado. Tenho uma história de ensino, pesquisa e extensão grande nesses mais de 30 anos como docente da FURG.
Fui pesquisadora destaque Fapergs em 2000, destaque geral no ano em que o tema foi inteligência artificial. Trabalhei em tudo: criação de curso, direção, projeto de ensino, projeto de pesquisa, projeto de extensão, e já estava pendurando as chuteiras — daqui há dois anos já tenho tempo para me aposentar. Então surgiu essa história. Eu tenho uma história longa com a FURG. Praticamente a FURG sou eu. Minha vida após a adolescência, toda ela é dentro da FURG. Não tem Silvia sem FURG. Participei da reforma estatutária, da criação das unidades acadêmicas, participei da construção desses prédios, da criação do Oceantec, da criação da inovação na FURG. Institui o Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação — fui a primeira presidente. Fui coordenadora das feiras do Polo Naval, aquelas grandonas. Trouxe o maior evento que já teve em Rio Grande, que foi o Robótica, com dez mil pessoas, com crianças desde o primeiro ano até [pessoas do] pós-doc na Universidade. Foi tanta coisa, sabe?
Essa é a minha história com a FURG. A minha história com a FURG é a minha história com a Silvia. É uma coisa só. E ainda, no final agora, nos últimos quatro anos eu topei o maior desafio da minha vida que foi criar um Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Inovação, que é o iTec, e aquilo ali é algo que é realmente muito novo nas universidades brasileiras e foi um mega desafio. Desde o início eu disse que ia ficar o tempo para estruturar — eu trabalhei junto com um grupo fantástico na estruturação. Essa é a minha história, que nesse momento termina com a direção do iTec.
Por que aceitar o desafio de assumir uma pró-reitoria?
Eu ia sair da [diretoria do] iTec. Falta hoje dois anos para eu me aposentar, tenho que fechar 57 anos, faço dia 19 de janeiro de 2027. Ia fazer um pós-doc, me preparar pra largar e ver o que fazer da minha vida me aposentando. E aí surgiu o convite da Suzane, tendo em vista esse histórico e a experiência toda desde a criação do Oceantec, idealização de o que seria um parque tecnológico para a FURG, depois criação e estruturação do i-Tec, um centro de inovação que está com projetos pelo Brasil todo, projetos com empresas que hoje tem um programa de bolsas que só fica atrás do programa Pibic, do CNPq — ele é maior do que todos os programas de bolsa da Universidade. Tem muito estudante trabalhando em projetos junto com empresas, conhecendo a realidade do setor produtivo, as demandas, se apropriando dos conhecimentos que eles têm, que eles veem em sala de aula e projetos que realmente vão resolver problemas do setor produtivo. E aí, nisso a Suzane me convidou para eu trazer um pouco dessa experiência e contribuir na FURG com a inovação, não só essa que a gente fez ali no iTec, mas tentar expandir para outras áreas, trabalhar com essa questão da inovação não só tecnológica, e também potencializar a inovação tecnológica na FURG.
O que me fez aceitar [o convite] é que foi bem legal o trabalho do iTec. E o que a gente criou no iTec, se a FURG conseguisse replicar outros iTecs, como esses espaços transversais de formação dos estudantes próximos a demandas da sociedade nas diferentes áreas do conhecimento, isso ia ser um baita gol no diferencial da Universidade. A gente entraria numa nova Era da universidade no Brasil. Foi esse desafio que me motivou a aceitar.