O legado de um dos grandes espaços culturais na história recente da cidade do Rio Grande/RS está de casa nova. A FURG recebeu nesta semana a doação de grande parte do acervo do Cine Dunas, que, por 16 anos, funcionou como o último cinema de calçada do Sul do Estado.
O prédio das pró-reitorias, localizado no Campus Carreiros, irá abrigar um memorial dedicado ao extinto cinema. Entre os itens mais valiosos que em breve serão expostos à visitação pública, está uma máquina de projeção em 35mm, fabricada na década de 1950, e rolos de filmes em película.
Fundada em 2005 pelo casal de professores Cleyton Abreu e Janete Jarczeski, a sala de exibição do balneário Cassino fechou suas portas no início da pandemia e, desde então, não conseguiu se manter. O anúncio do fechamento definitivo acabou sendo anunciado em maio deste ano.
"Ficamos gratos à FURG por receber esse material, e ele ser disponibilizado à comunidade rio-grandina", comenta Janete no corredor do antigo prédio, entre o vaivém de funcionários carregando poltronas e acomodando-as no caminhão de transporte. "De certa forma nos sentimos com o coração apertado, por ter essa decisão de não mais reabrir o cinema devido à conjuntura atual no país, mas ficamos confortados em saber que ele está sendo recebido com muito carinho, zelo e responsabilidade. Isto nos alegra", completa ela.
"A universidade, através da Proexc, vem há alguns anos trabalhando na pauta da valorização e preservação de patrimônios materiais e imateriais", aponta o pró-reitor de Extensão e Cultura, Daniel Prado. "Lamentavelmente o Cine Dunas acabou fechando, mas ficamos muito felizes com a chance de construir o recebimento desses objetos".
Com o memorial, a ideia será reproduzir o clima do ambiente de uma sala de cinema tradicional. "Será a nossa homenagem ao Dunas, que marcou a cultura cinematográfica da cidade, e também à própria memória do cinema no país e no mundo", adianta o pró-reitor. A curadoria do novo espaço ficará a cargo da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) e de outras unidades da universidade.
A máquina de projeção, da marca alemã Bauer, operou na sala do Cassino entre 2005 e 2015 (deste ano em diante, a projeção passou a ser digital). Além do projetor, foram repassados à universidade um acervo de trailers em película, as características poltronas em corino vermelho, uma coleção de cartazes originais de filmes e de todas as edições do Festival Varilux, amostras de ingressos e o expositor luminoso que ficava instalado na fachada do prédio.
Garantia de diversão
"Tenham todas e todos um bom filme, porque vocês e o Cassino merecem". A frase proferida por alguém da equipe antes de cada sessão era a garantia de boa diversão pelas próximas horas. Localizada na Avenida Rio Grande, em um prédio de arquitetura espanhola, a sala de exibição do Cine Dunas tinha capacidade de 120 lugares. Um espaço pequeno mas que, com uma programação que alternava blockbusters e filmes alternativos, nacionais e europeus, estabeleceu uma relação afetiva com a comunidade e turistas do Cassino.
Desde a primeira sessão (Kill Bill: Volume 2, de Quentin Tarantino), o público foi se multiplicando - o que levou os proprietários à decisão de abrir uma segunda sala, no centro de Rio Grande, que funcionou de 2008 até 2014. Por uma imposição do mercado, que exigiu a migração da exibição do sistema analógico para o digital, a sala teve que ser fechada e Janete e Cleyton optaram por focar as atividades exclusivamente no balneário.