EXTENSÃO E CULTURA

A Proexc por caminhos de pertencimento e diálogo para transformação social

Pró-reitoria aposta na escuta ativa, na valorização do conhecimento e na articulação comunitária para transformar realidades

Photograph: Yuri Lucas/Secom

Sob a liderança da pedagoga Débora Amaral, a trajetória da nova gestão da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) começa com objetivos bem definidos: aproximar ainda mais a Universidade dos territórios onde atua, valorizando o conhecimento produzido em diálogo com a sociedade, e fortalecer a identidade institucional da extensão e da cultura como eixos estratégicos para a transformação social.

E afinal, o que faz essa pró-reitoria? Faz muito. Baseada no novo prédio situado próximo à rua A do bairro Castelo Branco, a Proexc é composta por quatro diretorias — de Extensão e Cultura, de Arte e Cultura, do Complexo de Museus e Centros Associados, e do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic) — e abriga espaços de grande relevância cultural, como a Editora e Gráfica da FURG (Edgraf), a livraria universitária e o Trabalho Extensionista de Integração e Ação Socioambiental (Teias), que atua em articulação com núcleos e programas de extensão, como o Núcleo de Desenvolvimento Social e Econômico (Nudese), voltado à economia solidária.

De acordo com a pró-reitora Débora Amaral, mais do que cumprir diretrizes nacionais ou institucionais — como a Política Nacional de Extensão, o Plano Nacional de Cultura, a Política de Extensão e a Política de Arte e Cultura da Universidade —, a atuação da Proexc deve estar pautada pela vivência e pelo compromisso com a sociedade. “Nós somos uma instituição de educação, de ensino superior, nós produzimos muito conhecimento, conhecimento especializado, referendado... só que a produção do conhecimento sem a articulação comunitária, sem o diálogo, sem a escuta da comunidade, da sociedade como um todo, ela não provoca, não produz transformação social”, diz.

Débora reforça que o papel da unidade administrativa é ser ponte entre a Universidade e a sociedade. “A Pró-reitoria de Extensão e Cultura é o grande articulador da Universidade com seus territórios, são as ações descentralizadas, capilarizadas, do que a gente é capaz de produzir, do que a gente é capaz de acolher, que podem garantir tanto a transformação social quanto o pertencimento comunitário da Universidade na sociedade”. É compromisso da pró-reitoria, conforme a gestora, lidar com o fluxo dessa produção de conhecimento de modo responsável.

Escuta ativa para fortalecer a identidade e o impacto da extensão
Em um contexto de desafios orçamentários e sociais enfrentados pelas universidades públicas brasileiras, a pró-reitora reconhece a urgência de ampliar o alcance e a relevância das ações extensionistas e culturais. “A gente sabe que os desafios orçamentários são gigantes, continuam gigantes, eles não mudaram. [...] A nossa prioridade é fortalecer a relação da Universidade com o território, é poder realmente fazer com que as nossas ações de extensão tenham impacto social na vida das comunidades de Rio Grande, de Santa Vitória [do Palmar], de Santo Antônio da Patrulha, e de São Lourenço do Sul”, afirma.

Entre as iniciativas em andamento está a consolidação da identidade extensionista e da identidade de arte e cultura da Universidade, por meio da Proexc. Isso implica considerar os diferentes grupos que constituem a FURG. Essa construção tem sido feita a partir da escuta ativa dos servidores e servidoras, valorizando o conhecimento e a experiência acumulada. “No período de transição [entre reitorias], a gente fez um movimento de escuta muito significativo e a gente vê que tem colegas servidores, trabalhadores dessa Universidade, com muita competência, responsabilidade e compromisso social, e que precisam muito ser ouvidos. Eles sabem o que a gente precisa fazer”, reconhece.

Segundo Débora, o papel da gestão é criar as condições para que essas vozes possam se expressar e contribuir com o desenvolvimento da pró-reitoria: “Eu me percebo ali hoje, como pró-reitora, [na condição de] quem oferece a oportunidade, quem vai criar a oportunidade para que a gente possa fazer o que sabe e que precisa ser feito.” Por isso, dar valor aos espaços da Proexc também está no horizonte da gestão, não apenas do ponto de vista estrutural, mas, sobretudo, nas dimensões simbólica e humana. “Não é fortalecer só em estrutura física, porque estrutura física é o que a gente enxerga, mais fácil de perceber que ela não está boa, mas é fortalecer na garantia de escuta, na garantia de dizer a sua palavra, na garantia de valorizar as ideias, as ações, a forma como os nossos colegas percebem essa pró-reitoria e aquilo que eles trazem como contribuição para o desenvolvimento dela”, aprofunda.

O primeiro Seminário de Integração da Proexc, realizado na última quarta-feira, 9, é marco importante dessa valorização coletiva. O evento reuniu os trabalhadores e trabalhadoras da pró-reitoria para refletir conjuntamente sobre os rumos da extensão e da cultura na Universidade.

Olhar para o estudante e seu percurso na FURG
Outro ponto central para a atual condução da Proexc é pensar como a extensão, a arte e a cultura podem contribuir diretamente para o itinerário dos estudantes na Universidade. “É um compromisso transversal, que perpassa toda e qualquer pró-reitoria”, considera. “Estamos, ainda muito inicialmente, fazendo a constituição do grupo da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, mas trazendo esses compromissos, os dois principais compromissos, que são a relação [da FURG] com os territórios e pensar [a contribuição da extensão para] o ingresso, a permanência e a conclusão dos cursos de graduação e pós-graduação dos nossos estudantes”, resume Débora.

Para a gestora, é fundamental que a comunidade universitária se reconheça na Proexc — e que os territórios reconheçam a FURG como uma presença transformadora. “Acho que quando os estudantes ocuparem de forma mais intensa esse espaço, eles fazem a conexão com a comunidade, eles transformam seus territórios e eles valorizam e educam o território sobre o que é essa Universidade e a potência que ela tem.”

“Eu sempre pertenci muito à Universidade”
Educadora de formação e militante da cultura e dos direitos sociais por vivência, Débora Amaral chega ao cargo de pró-reitora da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da FURG impulsionada por uma história de vida que une afetividade, comprometimento, luta coletiva, e — assinatura toda sua — esperança.
A relação com a Universidade começou em 1999, quando ingressou no curso de Pedagogia com habilitação em Pré-escola, pouco antes da mudança do nome para Educação Infantil. Ainda naquele ano, começou a trabalhar no Núcleo de Estudos e Pesquisa das Infâncias (Nepe), e logo passou a integrar um projeto de extensão no Caic, a convite da professora (hoje aposentada) Maria Renata Mota, do Instituto de Educação (IE).

O envolvimento com o Caic marcou profundamente sua formação pessoal e profissional. “Eu me apaixonei ali pela comunidade”. Eu acho que a minha história com a FURG é uma história que começa com a comunidade, com a comunidade do entorno, com a comunidade da Castelo [Branco].” Durante 17 anos, a pedagoga viveu diferentes papéis no Caic: bolsista, estagiária, voluntária, professora, coordenadora pedagógica, diretora e, inclusive, mãe de aluno. Nesse período, aprendeu a enxergar além dos estigmas — e desde então passa o saber adiante —: “Ainda que a maioria das pessoas observe somente vulnerabilidade econômica, vulnerabilidade social, eu me apaixonei pela forma como essas comunidades conseguem se organizar nos seus cotidianos economicamente, coletivamente, solidariamente”, conta.

Após a passagem pelo Caic, ela assumiu a Diretoria de Arte e Cultura (DAC) da FURG, onde permaneceu por sete anos. Lá, se debruçou sobre o papel das políticas culturais e participou ativamente do Conselho Municipal de Políticas Culturais. “Eu vi que a gente tem outras áreas, para além da Educação, que ainda necessitam, no nosso Brasil, de muita atenção, de muito fomento, de muita política pública de qualidade”, constata a pró-reitora.

No período da campanha, Débora participou dos encontros de mobilização e se identificou com a proposta de gestão. “Apoiei porque acreditei nessa proposta de pertencimento. Eu sempre pertenci muito à Universidade, eu sei o valor da Universidade na minha vida e, por consequência, na vida da minha família, e eu sei o quanto ela tem esse poder transformador. Ela é um lugar que muda vidas, ela é um lugar que produz novas histórias, nos dá outras possibilidades, outros acessos”, afirma. Com 14 anos de experiência em cargos de direção, o convite para assumir a Pró-reitoria de Extensão e Cultura chegou de forma inesperada. “Eu imaginava que ficaria [na DAC]. Mas quando o Ednei e a Suzane me convidaram para a Pró-reitoria de Extensão e Cultura, [...] eu talvez tenha sido a única [entre os pró-reitores chamados] que disse SIM na hora, eu nem pedi para pensar”.

Consciente de que funções de gestão são construídas no exercício cotidiano, ela destaca a importância do processo. “A gente não nasce pronto. [...] Coordenação pedagógica, direção de escola, direção de unidade básica de saúde, direção de arte e cultura, pró-reitora de extensão e cultura — isso são funções em que eu me constituo, não tem uma formação específica, não tem um curso para gente ser diretora, pró-reitora. E eu acredito no processo. [...] Além de me sentir capacitada, ou pelo menos com coragem para me capacitar com os colegas e no processo, é uma pró-reitoria de que eu sei da relevância, da importância, e em que acredito muito”.

Munida de entusiasmo, disposta ao diálogo e referência em uma história de construção coletiva junto a FURG e suas comunidades, Débora Amaral assume a Pró-reitoria de Extensão e Cultura com a certeza de que o trabalho será intenso, mas profundamente necessário — e transformador.