Covid-19

Pesquisa da FURG vai avaliar o impacto da pandemia na saúde mental da população

Na próxima sexta, 25, iniciam entrevistas em 900 domicílios na zona urbana de Rio Grande

Qual é o impacto da pandemia de Covid-19 sobre a saúde mental da população? É para responder a esta questão que a partir desta sexta-feira, 25, entrevistadoras vão visitar 900 domicílios da zona urbana de Rio Grande. As entrevistas fazem parte de uma das cinco etapas da Mental Covid, pesquisa conduzida pelos Programas de Pós-graduação em Ciências da Saúde e Psicologia da FURG, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc).

Para compreender os impactos da pandemia na saúde mental, é preciso ter um padrão comparativo que, neste caso, é saber como era a saúde mental antes da pandemia. Por isso a proposta da pesquisa coordenada pelo professor Samuel de Carvalho Dumith é reproduzir cinco estudos que entrevistaram, de 2016 para cá, diferentes grupos de pessoas sobre saúde mental. Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS (Fapergs), estudos feitos na zona urbana de Rio Grande, na zona rural do município, com estudantes da Furg e do IFRS (campus Rio Grande) e ainda com moradores da zona urbana do município de Criciúma (SC) serão realizados novamente, com as mesmas questões, mas incluindo um bloco específico de questões sobre a pandemia e o isolamento social.

“A ideia que eu tive foi de reproduzir essas cinco pesquisas que foram feitas de 2016 para cá para ver o que mudou na saúde mental da população após essa pandemia. Reproduzindo essas cinco pesquisas a gente vai poder avaliar como está o quadro de depressão, de estresse, de qualidade de vida, de ideação suicida nessas populações para ver se a covid-19 e as medidas de distanciamento social estão ocasionando algum impacto nessas variáveis de saúde mental”, explica o professor Dumith.

As cinco etapas da pesquisa terão metodologias diferentes, pois seguem a metodologia adotada em cada uma das pesquisas originais, que agora serão reproduzidas. Mas, por conta da própria pandemia, haverá adequações. As duas pesquisas com estudantes, da FURG e do IFRS, que haviam sido realizadas nos espaços de ensino, foram adaptadas para questionários online, já que as aulas agora acontecem de modo remoto. Nos casos em que há visita domiciliar para entrevista, os questionários foram reduzidos, para que o tempo de resposta possa ser mais rápido. Todas as medidas de proteção de contágio foram adotadas, com uma equipe de entrevistadoras devidamente treinada não só para o questionário em si, mas também para os cuidados que este cenário demanda. Assim, os domicílios sorteados para compor a amostra, receberão visitas de entrevistadoras identificadas com camisetas da pesquisa Mental Covid, máscaras, face shield e luvas. E não haverá necessidade de receber as entrevistadoras em casa: a conversa pode ser feita na frente da residência. O registro da pesquisa será em tablet eletrônico.

A rodada de entrevistas inicia pelas zonas urbanas de Rio Grande e de Criciúma. No estado vizinho, o estudo será conduzido por pesquisadores da (Unesc), parceira do estudo. Nos próximos meses, moradores da zona rural rio-grandina também devem receber visitas de entrevistadores. O estudo assim contemplará um público bem diverso, adultos e idosos, estudantes de ensino médio e estudantes universitários, moradores das áreas urbanas e rural.

Para ampliar o escopo e ter o entendimento de como a pandemia afeta a saúde mental em âmbito nacional, o mesmo questionário feito com estudantes da FURG será respondido também por alunos de graduação das outras quatro regiões do país. Com parcerias com as universidades Federal Fluminense (UFF), do Mato Grosso (UFMT), Rural do Pernambuco (UFRPE) e do Estado do Amazonas (UEA) o estudo será multicêntrico e poderá observar diferenças entre as regiões do país. A pesquisa obteve autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para ser realizada.

A expectativa dos pesquisadores é que até o final do ano todas as etapas de coletas de dados tenham sido realizadas. “A nossa hipótese é que tenha tido uma piora no quadro de saúde mental, mas poderemos verificar com a pesquisa. Mesmo havendo a piora, poderemos avaliar quais são os fatores que estão levando a isso: se foi a diminuição da renda, se foi a falta de emprego, se foi o isolamento social, se foi a mudança de comportamento, como tabagismo, uso de drogas e álcool. Tudo isso a gente vai poder avaliar e entender como a Covid-19 está impactando sobre a saúde mental. Os impactos sobre a saúde física a gente sabe, mas sobre a saúde mental ainda tem poucas evidências na literatura científica, e é algo que vai se prolongar por um bom tempo. Mesmo após a pandemia, deve haver um impacto de médio e longo prazo sobre a saúde mental da população. E essas são questões que a gente vai poder investigar”, projeta Dumith.

As visitas aos domicílios da zona urbana de Rio Grande iniciam nesta sexta-feira, 25 de setembro. A escolha dos lares a serem visitados foi feita por amostragem probabilística, para que os resultados encontrados possam ser representativos de toda a população com 18 anos ou mais que reside na área urbana do município. Os pesquisadores esperam compartilhar os resultados encontrados na pesquisa com a comunidade rio-grandina a partir do início de 2021.