PROJETO

Secom aprova iniciativa inédita na área de divulgação científica e de ações de inovação

Para viabilizar as novas atividades, secretaria criou o Núcleo de Divulgação da Pesquisa e Inovação

Foto: Hiago Reisdoerfer/Secom

Recentemente, a Secretaria de Comunicação (Secom) aprovou junto à Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande (Faurg) um projeto inédito que prevê qualificar as iniciativas de divulgação científica e de inovação pela Universidade. Com investimento previsto de R$ 1,57 milhão até 2030, a proposta tem como meta a captação de recursos a fim de romper as barreiras entre o conhecimento científico produzido na instituição e a sociedade, transformando a forma como a ciência é comunicada.

De forma objetiva, a ação consiste no estabelecimento de um convênio entre Secom e Faurg, a partir da criação do Núcleo de Divulgação da Pesquisa e Inovação, setor que atuará como uma agência de comunicação, atendendo pesquisadores, instituições públicas e privadas, além de atuar, também, no fomento de uma cultura de divulgação científica dentro da própria FURG.

O modelo opera por meio da criação de um fundo de recursos financeiros provenientes de doações espontâneas das partes favorecidas, com a finalidade de investimento em infraestrutura, recursos humanos e tecnologia na área da Comunicação da FURG. Dessa forma, projetos com menor captação de recursos também podem ser beneficiados, uma vez que o núcleo não segue uma lógica de prestação direta de serviços, mas sim constitui-se como um mecanismo institucional de fomento, o que possibilita a melhoria de equipamentos e atração de novos profissionais de comunicação que poderão fortalecer a divulgação de projetos de toda a comunidade acadêmica, sejam eles fomentadores diretos ou não.

A ideia parte do princípio de popularização do conhecimento científico, mas que no formato habitual da secretaria torna-se inexequível: tornar a ciência acessível, com produção massiva de conteúdos e produtos voltados para diferentes públicos. “Com essa iniciativa, queremos criar uma cultura interinstitucional de divulgação, estimulando pesquisadores, professores e estudantes a compartilharem suas descobertas fora do nicho acadêmico também. Dessa forma, poderemos chegar a diversas pessoas, levando não só a excelência da FURG para outros lugares, mas aumentando a nossa conexão com o território”, explica o coordenador do projeto – e também coordenador da Secom - Guilherme da Luz.

Uma transformação de todos

Além de tornar-se uma prestadora de serviços como atividade fim, a iniciativa também habilita a Secom para realizar uma série de formações voltadas para pesquisadores em técnicas de comunicação científica, storytelling, redação e uso criativo das mídias digitais. Nesse sentido, a proposta prevê cursos, workshops e mecanismos para valorizar iniciativas que consigam ampliar o alcance da produção científica;

Além disso, o projeto viabiliza o desenvolvimento de uma cartela complexa de serviços de comunicação que inclui podcasts, videocasts, vídeos, documentários, transmissões ao vivo, registros fotográficos e inserções na Rádio FURG FM. “Com essas ferramentas à disposição e em operação, o Núcleo pretende dialogar com escolas, comunidades locais, empresas, órgãos governamentais e organizações da sociedade civil, promovendo encontros entre diferentes áreas do conhecimento e incentivando debates interdisciplinares. Para isso, eventos como feiras de ciência, palestras, festivais culturais e um congresso de avaliação das ações estão previstos no cronograma de atividades”, complementa o coordenador.

A justificativa do projeto deixa claro que não se trata apenas de ampliar a visibilidade da produção científica, mas de construir pontes para efetivamente conectar a Universidade com a comunidade. “A proposta é democratizar o acesso ao conhecimento, combater a desinformação e, ao mesmo tempo, estimular a aproximação da sociedade e da instituição. Ao traduzir o fazer científico para uma linguagem mais acessível, a FURG fortalece a confiança pública no papel transformador da pesquisa e da inovação, e de fato, enxerga toda essa potência sendo aplicada e utilizada no seu dia a dia”, aponta a secretária de comunicação, Alana Pedruzzi.

Entre os impactos esperados estão a valorização dos pesquisadores e da própria instituição, o fomento a novas parcerias e colaborações, o engajamento da comunidade em uma cultura científica local e o apoio direto a políticas públicas. O projeto também dialoga com mudanças recentes nas regras da pós-graduação, já que a Capes passou a considerar a divulgação científica como critério relevante no processo de avaliação e aporte.

Para transformar essa visão em realidade, a metodologia utilizada é diversificada e busca atingir o público de diferentes formas, por meio de diferentes formatos. Estão previstas estratégias que envolvem o conceito multiplataforma, explorando redes sociais, blogs, podcasts e vídeos educativos, mesclando linguagens e formatos desde séries no YouTube até peças visuais como infográficos para redes sociais, newsletters, revistas e produtos físicos relacionados à comunicação visual, tal qual panfletos e flyers, por exemplo, bem como a gestão de redes sociais de projetos parceiros, garantindo qualidade de produção audiovisual, constância e monitoramento de redes.

O plano inclui ainda a organização de webinars, conferências virtuais e feiras de ciência abertas ao público, além da aproximação com a mídia tradicional — rádio, TV e jornais impressos. Outro destaque é o incentivo à produção de conteúdos interativos e imersivos, como aplicativos, jogos e experiências em realidade aumentada e virtual.

Com o recurso obtido, a Secom aumenta a sua capacidade de gerenciar recursos humanos voltados exclusivamente ao núcleo, promovendo a atuação dedicada de profissionais técnicos sem prejudicar as suas ações institucionais cotidianas, atendendo as duas frentes de operação que são de suma importância para a Universidade. Além disso, a verba aportada também possibilita a atualização dos equipamentos da unidade, modernizando e atualizando a força de trabalho da equipe como um todo.

Combinadas, essas ações formam um ecossistema de comunicação que vai além da mera transmissão de resultados acadêmicos. O que se projeta é um círculo virtuoso em que a ciência não apenas informa, mas inspira, mobiliza e transforma a sociedade, rompendo barreiras e cumprindo um dos papéis basilares da Universidade, que é o seu compromisso em desenvolver o território.

Ações concretas: o caminho até agora

Desde a sua recente implementação, o projeto já foi capaz de viabilizar alguns parceiros, situados em diferentes fases de consolidação, como o Centro Interinstitucional de Observação e Previsão de Eventos Extremos (Ciex), a Faurg, o Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira (Simcosta), e o Espaço Concha OpenLabs, vinculado ao Parque Científico e Tecnológico da FURG, o Oceantec. De acordo com a coordenação, a expectativa é que o quantitativo de aderência seja impulsionado pela visibilidade obtida nos primeiros trabalhos.    

A proposta abre um leque inédito de possibilidades para o aporte de recursos. Nesse sentido, o projeto estrutura essa contribuição espontânea em três modalidades diferentes. A primeira, chamada Cota de Apoio Cultural, permite que instituições aportem valores e tenham sua marca exposta durante programas, intervalos comerciais e, eventualmente, em eventos produzidos pela Secom vinculados à Universidade. Já a Cota de Nomeação amplia o alcance dessa visibilidade, oferecendo ao parceiro associar sua marca diretamente a um produto acadêmico ou cultural — seja um laboratório, convênio, incubadora, centro cultural ou até mesmo uma pesquisa em andamento. A terceira modalidade, Cota de Canal, prevê um aporte mais significativo e garante inserções e produtos tal qual transmissões na rádio entre diferentes programas, podendo configurar patrocínios exclusivos ou cooperativos.

Cenário local: a importância da FURG enquanto comunicação pública para o fomento da ciência

A iniciativa se insere em um cenário marcado por transformações estruturais no mercado da comunicação regional. O levantamento realizado pelo projeto indica que, no extremo sul do Estado, a lógica predominante ainda é ditada por grandes emissoras, cuja programação combina música e jornalismo factual sem caráter de aprofundamento regional, mas mantém a publicidade restrita ao formato tradicional de anúncios.

“Embora eficiente em termos de capilaridade, esse modelo de comunicação tem caráter efêmero, marcado pela substituição constante de mensagens, o que limita sua capacidade de gerar reflexão e memória. O mesmo fenômeno se observa no jornalismo impresso, com o fechamento de veículos tradicionais e a ascensão de pequenas empresas digitais, muitas vezes reproduzindo em escala reduzida a lógica comercial das grandes corporações”, explica Guilherme.

Diante desse quadro, o diagnóstico do projeto é claro: somente as mídias públicas têm condições de sustentar um tempo comunicativo distinto, voltado à reflexão e à produção de conhecimento. Para os responsáveis pela proposta, é nesse espaço — ainda pouco disputado e de alto potencial estratégico — que a Secom pode consolidar sua atuação, oferecendo uma comunicação que transcende a lógica do mercado, se alinha ao ritmo próprio da pesquisa e da inovação, e por fim, trabalha na construção de um imaginário popular permeado pela ciência.

Se você, seu projeto ou sua instituição tem interesse em participar do Núcleo de Divulgação da Pesquisa e Inovação, entre em contato pelo e-mail pesquisaeinovacaofurg@gmail.com.