ENCONTRO

Cidec-Sul foi palco de evento em celebração ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Além de rodas de conversa e apresentações culturais, foram exibidos curtas-metragens dirigidos por mulheres

Foto: Divulgação

Um dia para celebrar saberes, cultura e resistência. Assim foi o evento Mulheres Negras: Saberes, Vozes e Presenças, realizado no campus Carreiros da FURG, na última sexta-feira, 25.

Durante todo o dia, uma série de atividades celebrou a passagem do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Rodas de conversa, exibição de curtas, apresentações culturais e uma mesa sobre ancestralidade, coletividade e protagonismo integraram a programação.

A realização se deu através de uma parceria entre a Secretaria de Ações Afirmativas, Inclusão e Diversidades (Secaid/FURG), Grupo de Pesquisa Educação para as Relações Étnico-Raciais (Erer/FURG), Secretaria de Município da Educação (Smed) e 18ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), com apoio da Aptafurg.

Foi um momento para reconhecer trajetórias, fortalecer presenças e celebrar as contribuições das mulheres negras na história e na sociedade. Após o encontro com escritoras do Kilombo Literário, na Sala Estuário, foram apresentadas três recentes produções em curta-metragem, todas dirigidas por mulheres da cidade.

A diretora Maria Rita Rolim apresentou o seu curta-metragem "BGV – Aqui Tem Gente" (2025), um documentário sobre o bairro Getúlio Vargas. Desenvolvida através do trabalho de conclusão de curso de Maria Rita, que também é jornalista, a produção dá voz às histórias e memórias da localidade. "Foi um projeto feito em um ano, a pedido da comunidade do BGV. E foi uma forma de trazer à tona as potencialidades do bairro, enfatizando o carnaval, a cultura hip-hop, a cultura do samba, e as histórias particulares de cada entrevistado", destacou a realizadora. Na plateia, marcou presença Dacila Rodrigues dos Santos, ex-presidente do bairro e uma das primeiras mulheres negras a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Rio Grande.

O filme "Matripotência - O Legado Das Mulheres Ancestrais" (2025), de Rayssa Fontoura, exibiu ao público alguns dos saberes, lutas e legados de três territórios tradicionais de matriz africana da cidade do Rio Grande. Por meio da oralidade, da memória e da expressão artística, o documentário evidencia o papel de mulheres na preservação da cultura afro-brasileira e na construção do mais antigo município do estado.

"Graça: Porque a Vida é Luta" (2025), da diretora Natasha Rodrigues, foi o último curta exibido. O minidocumentário apresenta a história da rio-grandina Maria da Graça da Silva Amaral, mulher negra e ativista na pauta racial. O roteiro parte de relatos sobre seus antepassados, remontando aos tempos da escravidão, até conquistas recentes que inspiram as próximas gerações. "Ouvir Maria da Graça contar sua história nos faz pensar em como poderia ser a história dos nossos antepassados; é fácil observar o caminho em direção ao apagamento que as famílias negras têm, quando não se há registro, quando não se contam essas histórias. Ela traça um caminho contrário a essa vertente, preserva, conta e nos faz perceber a riqueza de suas origens, tanto pelas conquistas de seus ancestrais que eram subjugados socialmente por serem ex-escravizados, quanto por suas próprias lutas que, desde a infância, a destacam entre seus desafios", comentou a diretora. Graça esteve presente no evento e foi bastante aplaudida pelo público.

No saguão do Cidec, o Instituto Cultural Filhos de Aruanda apresentou um esquete cultural e estudantes do Coletivo de Estudantes Africanos na FURG (CEA/FURG) realizaram apresentação de dança. A Livraria Hippocampus expôs livros sobre a temática negra e a professora da rede estadual Gabriele Costa conduziu a oficina "Turbante-se". Também houve a exposição "Escritas Encruzas" de Pâmela Conceição, responsável pelo Sarau Terezas. À noite, aconteceu a mesa redonda no auditório principal.  Ao final, foi entregue uma homenagem para Maria da Graça Amaral, por sua posição de destaque como mulher negra na comunidade rio-grandina. 

Para Elina Oliveira, técnica em Assuntos Educacionais da Secaid, o evento foi um sucesso "pois contou com a participação da comunidade rio-grandina e do Movimento Negro da cidade, que era o que queríamos alcançar pois muitas vezes acabam não participando das ações que ocorrem na Universidade, por conta de não se sentirem representados/as pelas pautas. Conseguimos trazer um pouco da história, cultura e religiosidade negra, principalmente relacionadas às mulheres negras, seja através do que foi falado no diálogo com as escritoras do Kilombo Literário, através dos curtas-metragens, das atividades artísticas e culturais, e também sobre as pautas que foram trazidas na mesa redonda, onde foi falado sobre o acesso de mulheres negras à moradia, sobre educação financeira e também sobre a necessidade da promoção da cultura negra na nossa cidade. Eu enquanto mulher negra me senti contemplada pelas ações, e espero que essa seja a primeira de muitas edições, e que a cada ano esse evento seja maior e melhor pois a nossa comunidade merece". Ela destaca, ainda, que o evento foi organizado majoritariamente por mulheres negras e que ele não teria acontecido sem a colaboração com as entidades envolvidas.

 

 

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Maria da Graça da Silva Amaral, mulher negra e ativista da pauta racial

Fernando Halal/Secom