ABRIL INDÍGENA

Ativistas de povos tradicionais apresentaram Aula Inaugural nesta terça-feira, 3

Atividade faz parte da Acolhida Cidadã e acontece presencialmente pela primeira vez desde o início da pandemia

Foto: Hiago Reisdoerfer/Secom

Na noite desta última terça-feira, 3, foi realizada a Aula Inaugural 2022, este que é um dos momentos mais aguardados, anualmente, com a programação da Acolhida Cidadã na FURG. Nesta edição, o tema fez alusão ao mês de resistência Abril Indígena, trazendo como palestrantes as ativistas Telma Taurepang e Shirley Krenak. A conversa foi mediada pela titular da Coordenação de Ações Afirmativas, Inclusão e Diversidades (Caid), Elisa Celmer, e contou com transmissão ao vivo pelo canal da FURG no YouTube – a aula está salva na plataforma e pode ser assistida clicando aqui.

Com o tema “Saberes indígenas e educação: diálogos interepistêmicos”, a atividade aconteceu em caráter presencial pela primeira vez desde o início da pandemia, no Cidec-Sul, também reunindo nas dependências do auditório a exposição fotográfica “Tire o Preconceito do Caminho que Eu Vou Passar Com Meu Cocar!”, reunindo registros da presença de estudantes do Coletivo Indígena da FURG na ação “Terra Livre”, promovida no início do mês de abril em Brasília.

Consciência crítica e coletiva

Para realizar a abertura oficial do evento, foram convidados ao palco o reitor, Danilo Giroldo, e o vice-reitor, Renato Duro Dias. Em sua fala, Giroldo destacou a importância da escolha do tema, abrindo um espaço de escuta para os saberes indígenas, buscando valorizar o conhecimento tradicional em conjunto com o conhecimento científico, fazendo dessa forma o reforço da consciência acerca da diversidade no ensino superior como elemento fundamental para a construção de uma universidade que, de fato, represente a sociedade brasileira em toda sua complexidade.

“Poderíamos escolher muitos temas para abordar neste momento; poderíamos trabalhar algumas áreas do conhecimento ou até mesmo ensino, pesquisa, extensão e inovação, mas estamos inseridos dentro de uma sociedade, e sendo assim, a universidade não faz sentido se isolada da comunidade. Só poderemos atuar frente a essas demandas se reconhecermos as peculiaridades da nossa sociedade. O avanço acadêmico e científico da nação só será possível quando resolvermos questões basilares do país que ainda não resolvemos; o respeito às diversidades, o combate às injustiças sociais, à desigualdade, à violência e opressão. Nós precisamos trabalhar conjuntamente se quisermos avançar”, destacou o gestor em sua fala.

Ainda segundo a avaliação do reitor, qualquer instituição só se torna melhor à medida em que se torna mais diversa. “E por isso que quando falamos de respeito, estamos falando de reparação histórica e de direitos, de reencontrar nosso passado e reconhecer nossos erros para projetar um futuro melhor e mais equalitário. Não existe excelência acadêmica sem respeito e valorização das diversidades, sobretudo a valorização dos nossos povos originários”, adicionou.

 

Para Renato, o momento – para além de uma aula importante -, representa também a celebração do reencontro. “Estamos muito contentes em retomar nossas atividades acadêmicas de modo presencial, reencontro este que tem sido muito importante para nós e para os novos estudantes, àqueles que ingressaram no período de atividades remotas e não viveram a universidade em toda sua potencialidade, ou ainda aqueles que já estavam conosco antes do período pandêmico”, introduziu o gestor.

O vice-reitor manifestou, ainda, a alegria institucional em receber duas personalidades importantes na luta pelos direitos dos povos tradicionais. “Estamos muito felizes por vocês terem vindo compartilhar um pouco de sua sabedoria e conhecimento construído na luta diária de cada povo que vocês representam”, comentou.

Respeito às diversidades e à terra

Para iniciar a aula, Telma manifestou a importância do momento, ocasião em que uma universidade abre suas portas para ouvir uma Taurepang, transmitindo assim uma mensagem de que o ensino superior é e deve ser um ambiente de todos e para todos. Logo em seguida, a palestrante proferiu um canto tradicional, lembrando a todos a importância de reconhecer seu papel junto à terra.

“A universidade visualiza para todos um Brasil mais justo e igualitário. E dentro desse país existem mais de 175 línguas maternas e mais de 300 povos originários. Então, é preciso olhar para essa questão, não com indiferença, mas com a consciência de que somos todos parte de um todo. Eu digo sempre que eu não cuido do meio ambiente, nós cuidamos de um todo. Esse todo precisa ser cuidado, de fato, por nós. Qual é o nosso papel dentro da sociedade? Qual é o desenvolvimento que nós queremos? A que preço?”, indagou Telma.

Shirley, por sua vez, ao iniciar sua fala, convidou os estudantes indígenas que prestigiavam o evento presencialmente a sentar-se junto ao palco, ao lado das palestrantes. “Vocês também são detentores do saber, venham, vamos fazer diferente”, convocou. “Na língua do meu povo, quando estamos felizes em estar perto dos parentes, a gente agradece falando ‘ererré’, que significa tudo que é bom, belo e maravilhoso. Isso é para mostrar para vocês o quanto somos coletivos, mas somos poucos; olha como mesmo juntos aqui em cima, vocês ainda estão em maior número aí embaixo. Nós somos apenas 5% da população do país”, ilustrou a ativista.

Ainda em sua manifestação, Shirley destacou a luta dos povos tradicionais pela manutenção da natureza. “Esses 5% são aqueles que lutam para que vocês possam respirar todos os dias, beber água todos os dias, caminhar sobre a terra todos os dias. De que forma esse cuidado está vindo para nós? Como a sociedade está cuidando dessas pessoas que vocês estão vendo aqui neste momento? Como vocês cuidam de nós? Porque nós estamos cuidando de vocês”, apontou a palestrante. Ao fim de sua fala, Shirley realizou um canto tradicional ‘Nak inhauit borum rerré’, em conjunto dos demais presentes.

As palestrantes

Natural da comunidade indígena mangueira e coordenadora geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab), Telma Taurepang é professora e acadêmica em Antropologia, na Universidade Federal de Roraima (UFRR). Dedica sua vivência à busca pelo reconhecimento e pelos direitos das mulheres indígenas, atuando como articuladora no Green Climate Fund junto aos governos estaduais da Amazônia Brasileira.

Ativista indígena, Shirley Krenak pertence ao povo indígena Krenak do leste do Estado de Minas Gerais. Atualmente, desenvolve diversos projetos educacionais e de fomento à cultura indígena, sendo autora dos livros "A Onça Protetora" e "Krenak Ererré". Coordena o Instituto Shirley Djukurnã Krenak, uma associação sem fins lucrativos criada para contribuir e assessorar atividades sociais, culturais e socioambientais. É também coordenadora pedagógica de cursos de extensão voltados para a história indígena do Brasil, desenvolvidos em parceria com o Núcleo de Agroecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares.

 

Galería

Atividade faz parte da Acolhida Cidadã e acontece presencialmente pela primeira vez desde o início da pandemia

Hiago Reisdoerfer/Secom