VOLUNTARIADO

“Ainda podemos encontrar sorrisos, beleza e alegria em meio ao caos”

Davi Masi é psicólogo formado pela FURG e vai no próximo mês ser voluntário em Moçambique

Foto: Arquivo pessoal
A foto mostra Davi falando em um microfone em frente a um mapa Mundi que ocupa uma parede inteira.

Davi Masi tem 28 anos, é recém formado em psicologia pela FURG e é pai do Matteo de 7 anos.  O psicólogo atendeu o chamado da Junta de Missões Mundiais e vai no mês de maio para Moçambique prestar ajuda humanitária para a população da província de Sofala. O país africano foi devastado pelo Ciclone Idai, em 4 de março.

Qual é tua relação com a Universidade Federal do Rio Grande (FURG)?

Sou formado em psicologia pela FURG. Ainda não trabalho na universidade, mas pretendo atender como extensionista no Centro de Atendimento Psicológico (CAP) vinculado ao Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) este ano assim que possível.

De onde surgiu tua motivação para ires como voluntário para Moçambique? É a primeira vez que realizas trabalho como este?

Eu simplesmente estou seguindo o exemplo de Jesus. Sou cristão e Jesus deu o exemplo de um amor sacrificial, de modo que Ele morreu e ressuscitou por nós. E é este amor prático que precisamos aprender, aquele que nos tira da zona de conforto e também a considerarmos os interesses do outro acima dos nossos quando é necessário. 

É a primeira vez que vou para o exterior, também a primeira vez que realizo este tipo de trabalho de caráter emergencial em um desastre súbito como esse.

Como está tua expectativa para o que vais encontrar lá? Como esperas ajudar?

Estou com expectativas mistas. As ruins dizem respeito ao cenário e as condições de vida das comunidades como o saneamento, as doenças, a fome, a sede, etc. Isso é algo muito difícil de ver e saber que pouco ou nada podemos fazer. Eu não sei ainda o que o povo daquela cultura entende como sofrimento, isso para mim é primordial antes de qualquer intervenção. Por isso, minha expectativa boa é que poderei ouvir, sendo que através da escuta poderei ajudar as pessoas a amenizarem seus sofrimentos e olharem pra frente. Espero poder acolher e amar cada pessoa que encontrar de maneira especial, sem reservas. Assim, espero poder ajudar as pessoas a se situarem na realidade de modo a conseguirem enfrentar a situação com a força que elas já têm.

O que já tenho visto de quem chegou lá antes de mim é que o povo em Sofala é muito resiliente, sendo grato pela vida apesar de terem perdido bens materiais. Ainda podemos encontrar sorrisos, beleza e alegria em meio ao caos.

Em que região do país vais atuar como voluntário?

Consegui definir a data da viagem junto à organização que me dará cobertura e vou de 1º a 10 de maio. Eu já estava à disposição para abril, mas eles conseguiram montar duas equipes de voluntários, e me pediram pra ir em maio, pois até o momento não havia psicólogos naquela equipe.

Sofala é a província mais afetada, segundo as informações que obtive. A capital é Beira, que foi 90% destruída. A cidade onde vou ficar é Dondo, que fica a 30km de Beira, aproximadamente. Embora eu esteja disponível, ainda não sei se serei enviado a outras cidades além de Dondo.

Conta um pouco como foi a realização da campanha para a arrecadação de dinheiro e materiais para a viagem.

A campanha de arrecadação não terminou ainda, pois a data mudou pra 1º de maio. Mas o início foi assim, um amigo meu, missionário batista, compartilhou comigo no WhatsApp uma chamada urgente da Junta de Missões Mundiais (JMM) - organização batista missionária e de voluntariado fora do Brasil. Este chamado era para uma caravana de profissionais da saúde voluntários para trabalhar em Moçambique em uma viagem de curto-prazo. Eu não queria ir inicialmente, pois já estávamos com um projeto de irmos em família (minha esposa, eu e nosso filho) para o Oriente Médio trabalhar com crianças sírias refugiadas. Mas então, dada a emergência do caso de Moçambique, entendemos que seria mais importante que eu fosse como psicólogo voluntário pra lá.

A JMM só organiza as caravanas e intermedia o processo com quem nos recebe lá, mas o dinheiro quem tem que levantar somos nós. A decisão de ir foi na sexta-feira, 22 de março. No dia seguinte comecei a campanha no Facebook e no domingo falei da arrecadação na igreja que frequento. Pela fé lancei o desafio, pois em pouco mais de uma semana já precisava ter tudo certo. Em quatro dias já tínhamos o valor das passagens. Com a mudança de data poderemos nos preparar mais e levar uma ajuda mais efetiva. No final de março já tínhamos cerca de 70% dos recursos arrecadados.