NUTRA

2º Encontro de Tradução da FURG supera expectativas e ganha projeção internacional

Em entrevista a Secom, organizadores do evento contam sobre os desafios e as oportunidades de atuação na área

Foto: Divulgação

Promovido pelo Núcleo de Tradução (Nutra), o 2º Encontro de Tradução da FURG aconteceu de 6 a 10 de julho, em formato virtual devido à pandemia de Covid-19. O Encontra 2020 teve como tema “Tradução e Cultura” e precisou de esforço e dedicação da comissão organizadora, composta por 15 pessoas entre docentes, discentes e técnicos para que pudesse acontecer de forma online.

A Secretaria de Comunicação da FURG (Secom) conversou com os professores Rodrigo Pereira e Joselma Noal, do Instituto de Letras e Artes (ILA) sobre a realização do evento que contou com mais de 1500 participantes de várias regiões do país e também outros países. Além do formato inédito online, o Encontra teve a tradução simultânea para o público surdo. Bianca Cunha que é tradutora intérprete de Libras da FURG e membro da comissão organizadora, contou sobre a importância de um evento acessível. Os professores falaram também sobre a área de atuação da Tradução dentro da universidade e para os egressos e sobre o futuro da profissão.

Mais informações sobre o Nutra podem ser acessadas pelo site, Facebook e canal do Youtube . Os Anais do evento estarão disponíveis aqui.

Como foi planejar o 2º Encontra de forma totalmente online? Qual foi o maior desafio?

Rodrigo: Foram muitos desafios e ainda mais aprendizados até a realização do evento online. É importante destacar primeiramente que o evento, na verdade, havia sido planejado para o formato presencial. O trabalho começou logo no início do segundo semestre do ano passado. Fechamos o ano com o eixo central da programação confirmado, isto é, todos os palestrantes e conferencistas, pois era necessário prever o pagamento de passagens e diárias aos convidados. Ao longo do verão foram recebidas e aprovadas 13 propostas de Simpósios Temáticos (STs). Assim, já iniciamos o semestre letivo com a abertura do prazo de submissão de trabalhos.

A realização do evento em formato virtual foi uma questão que veio só mais tarde, quando fomos surpreendidos pela suspensão das atividades acadêmicas e administrativas em razão da pandemia. Nossa primeira decisão foi de cancelamento do evento por tempo indeterminado. A ideia de um evento totalmente online nos parecia uma realidade muito distante, para a qual não estávamos preparados. No entanto, diante da falta de perspectiva do possível retorno e ao acompanhar outros eventos, vislumbramos essa possibilidade. Hoje vemos que foi a decisão mais acertada a fazer, pois o evento ganhou uma projeção muito mais expressiva.

Enfim, realizar o evento nesse novo formato exigiu muito trabalho em pouco tempo, sendo um período intenso de adaptação. Por um lado, foi difícil enfrentar nossas limitações em termos de recursos e de capacitação para o uso das ferramentas digitais de tecnologia da informação e comunicação, em especial com relação às plataformas e às transmissões ao vivo. Manter a acessibilidade em Libras foi um dos maiores desafios nesse sentido, sem dúvida. Por outro lado, foi necessário garantir que a participação dos palestrantes, dos coordenadores de STs, bem como a viabilidade de apresentação dos trabalhos não fossem prejudicados. Desse modo, considerando o número de participantes, a solução foi realizar os STs em salas virtuais (capacidade de 75 pessoas), enquanto as palestras receberam transmissão ao vivo pelo canal do Nutra no Youtube para dar conta do número de inscritos.

Por último, é importante frisar que o evento tornou-se possível graças aos esforços humanos diante dos desafios tecnológicos, utilizamos recursos humanos exclusivamente da FURG (docentes, técnicos e discentes), mas recursos tecnológicos próprios, de cada membro dessa comissão.

Além de ter sido um evento virtual, o Encontra também contou com a tradução para libras. Qual a importância de ter realizado um evento acessível para todos os públicos?

Bianca: Consideramos muito importante que a língua de sinais se faça presente em todos os espaços, por isso a acessibilidade foi pensada desde o início da construção do evento na modalidade virtual, já que um dos objetivos do Encontra era que o público surdo tivesse o mesmo acesso à informação que o público ouvinte. É importante destacar que promover um evento acessível vai além de ter os serviços de tradução e interpretação de Libras/português. Pensando nisso, a comissão organizadora estabeleceu um canal direto de diálogo com os profissionais da área que atuaram ao longo do evento e seguimos algumas recomendações importantes, tais como: dimensão adequada da janela de tradução/interpretação, envio antecipado dos materiais base utilizados ao longo da programação, reunião com palestrantes, testes de uso da plataforma. A partir desses fatores, a acessibilidade foi sendo construída ao longo de todo o Encontra, o que permitiu que os Surdos pudessem participar do evento não só assistindo, mas também apresentando comunicações nos simpósios temáticos.

O número de participantes foi bastante expressivo nesta edição. O formato virtual ajudou no alcance dessa participação? Vocês acreditam que o contato virtual seja um fator positivo neste momento de distanciamento social?

R: Embora a falta do contato presencial represente muitas perdas, como a falta do abraço, do olho no olho, acreditamos também haver um saldo bastante positivo do evento, levando com conta as circunstâncias. Ao colocar toda essa gama de gente em contato, especialmente a partir dos relatos que recebemos durante e após o evento, foi possível perceber que, muito além dos aspectos acadêmicos e profissionais, houve aproximações afetivas, relações interpessoais que romperam com a situação de isolamento de muitos. Daí a importância de nos adaptarmos, com a consciência do caráter excepcional, como forma de enfrentamento da situação aterrorizante pela qual passamos e investir em atividades que promovam saúde mental através do contato entre as pessoas, a exemplo do Encontra. Em suma, por mais desconfortável que pareça ser a realização de um evento inteiramente virtual, ainda apresenta-se melhor do que a total suspensão, porque proporciona a aproximação de pessoas.

Além disso, a adesão ao novo formato proporcionou resultados até então inimagináveis para Comissão. Por exemplo, o maior alcance de público, passando de uma abrangência regional para nacional, com diversos participantes internacionais, é um fator bastante positivo, que só se tornou possível graças ao formato virtual. Acreditamos que seja uma oportunidade ímpar de reafirmar o nosso potencial enquanto universidade pública e gratuita, e o nosso compromisso com a educação de qualidade, mesmo em tempos de pandemia, diante de tantas atrocidades que a Educação brasileira vem sofrendo.

Está nos planos da organização do Encontra planejar uma versão online na próxima edição?

R: De fato, não pensamos nisso, porém, como a proposta de realização do Encontra é bianual, ainda temos tempo. Ainda estamos trabalhando na certificação, que, por sinal, deverá sair na segunda semana de agosto. Eu particularmente acredito que, embora tenha se tratado de uma alternativa em caráter emergencial, considerando todo o aprendizado proporcionado por essa edição virtual, o formato híbrido talvez seja uma boa alternativa para a próxima edição. Imagino que seja possível realizar um evento presencial com transmissão ao vivo das palestras e possibilidade de participação virtual para a apresentação de trabalhos, por exemplo.

Joselma: Com certeza o 2º Encontra superou as expectativas: não só pelo número de inscritos de diferentes regiões. Contamos com participantes de todos os estado brasileiros, exceto Sergipe, Tocantins e Amazonas e dos seguintes países: Argentina, China, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, México, Peru, Portugal, Uruguai. Salas de simpósio com 70 participantes não é algo comum em eventos presenciais. Além disso, destaco a qualidade dos trabalhos apresentados nos simpósios. Acredito que todos estes fatores positivos devem ser considerados para seguir com o formato virtual em uma nova edição do evento.

Falando um pouco sobre a área da Tradução. Como é essa área de atuação na FURG? E o campo de atuação para os egressos?

R: Na FURG, o principal espaço de desenvolvimento acadêmico e profissional em tradução é o Nutra. Além do apoio às demandas institucionais no âmbito da internacionalização, através do Núcleo articulam-se ações de ensino, pesquisa, extensão, cultura e desenvolvimento institucional em Tradução. Com espaço físico junto ao Centro de Línguas, do Instituto de Letras e Artes (ILA), o Nutra funciona através dos esforços conjuntos de professores com interesse na área de tradução.

Atualmente, destacam-se duas linhas de atuação. Primeiramente, tínhamos a tradução institucional, que é o serviço de tradução para a comunidade universitária de demandas administrativas e acadêmicas, no âmbito das relações internacionais, configurando-se, também, em espaço de atuação e desenvolvimento técnico-profissional em tradução para discentes e egressos. Infelizmente, perdemos a figura do tradutor institucional recentemente, às vésperas do Encontra, e não sabemos qual será o futuro dessa frente de trabalho. Cumpre apenas observar que não será possível fazer reposição de vaga porque o cargo foi extinto em 2017, em conjunto com outros cargos fundamentais para as universidade públicas brasileiras, na contramão do processo de internacionalização e de implementação da política linguística.

Em segundo lugar, temos os projetos acadêmicos, promoção e articulação de projetos na área de Tradução que visam à formação complementar e continuada de discentes e egressos, bem como organização de eventos, cursos, oficinas, palestras, grupos de estudos e de pesquisa, incentivo à produção científica e à publicação, entre outros. Nesse sentido, acreditamos que o sucesso do evento reafirma o potencial dessa área incipiente na FURG e demonstra a importância da articulação com instituições parceiras da região sul que possuem cursos de Bacharelado em Tradução, como a UFPel e a UFRGS.

J: O curso de Letras da FURG é licenciatura, mas há muito interesse dos discentes pela tradução. Em 2017, foi publicada a obra Contos de Juana Manuela Gorriti, autora argentina, cuja obra em livro jamais havia sido traduzida ao português. Esta publicação foi resultado de pesquisa realizada por equipe formada por professores e alunos de Espanhol da FURG.

O GET – Grupo de Estudos de Tradução, em 2018 e 2019, propiciou a um grupo de alunos com interesse na área de tradução leitura e discussão de textos teóricos e participação de oficinas de tradução. Agora o projeto de ensino será denominado GETEC – Grupo de Estudos de Tradução e Escrita Criativa que buscará desenvolver potencialidades importantes na área de Letras, considerando mercado de trabalho e interesse dos alunos.

Quais são os maiores desafios e oportunidades para quem estuda e produz pesquisas nessa área?

J: Traduzir é um ato desafiador por si só, propicia um novo aprendizado a cada linha traduzida, não se trata apenas de traduzir um vocábulo, mas um sentido. Portanto, o que um aluno aprende em tradução não se restringe a ampliação de vocabulário, vai muito além. Se pensarmos na tradução literária, traduzir é desvendar outro mundo, outra cultura. A área de pesquisa sobre tradução literária é instigante e oportuniza ao aluno um vasto conhecimento sobre a língua, além de ampliar de modo significativo o seu repertório cultural.

R: No âmbito da tradução técnica, no sentido abrangente, incluindo praticamente tudo o que não é tradução literária, existe um vasto mercado de trabalho em constante crescimento. Portanto, quem deseja seguir na área precisa investir em formação. Além das áreas mais tradicionais, como tradução acadêmico-científica e jurídico-contratual, atualmente a tradução audiovisual e a localização de jogos são campos de atuação promissores para jovens tradutores. Além disso, como resultado das recentes conquistas de políticas linguísticas e de tradução, serviços como tradução/interpretação de Libras e audiodescrição também se apresentam como espaços potenciais na área.

Enquanto professores, como vislumbram o futuro da Tradução?

J: Há um futuro promissor para os que desejam atuar nesta área, seja com tradução de textos técnicos, de artigos científicos ou com tradução literária onde sempre há muitos autores a serem traduzidos a outros idiomas. Por isto, em função da demanda de tradução, devemos instrumentalizar nossos alunos da Licenciatura em Letras através de oficinas, cursos e disciplinas optativas de tradução, além de projetos de pesquisa, ensino e extensão.

 

 

 

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2º Encontro de Tradução da FURG aconteceu de forma virtual

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