Quem circulou pelo Partage Shopping neste sábado, 15, se deparou com estandes nos corredores que mostravam desde pesquisas sobre o derretimento de geleiras na Patagônia, a invenções robóticas e outras envolvendo tecnologias alimentares. São projetos e pesquisas da FURG, em exposição na 15ª Feira de Inovação Tecnológica (Fitec) que neste ano, pela primeira vez, saiu da universidade para se aproximar da comunidade.
Em comum entre todas as pesquisas apresentadas, o caráter inovador. E, por trás de quase todas, a preocupação socioambiental, antenada com a vocação da universidade, voltada para os ecossistemas costeiros e oceânicos. Neste domingo, das 11h às 20h, haverá novamente a exposição dos projetos.
Plástico e alimentos
Na tarde do sábado, 15, a primeira atividade no espaço Talks da Inovação foi sobre o registro de patentes de produtos inovadores. Um deles, de autoria da professora Vilásia Martins, da Escola de Química de Alimentos, trata-se de um sachê feito a base de chia. No exemplo apresentado pela professora, o conteúdo do sachê é café solúvel. Ao colocar o sachê na água quente, ele dissolve junto com o café. Com potencial para diferentes aplicações, não apenas café, mas armazenamento de outras substâncias, especialmente alimentares, evita o uso de plástico. O laboratório de Química de Alimentos trabalha ainda com o uso de outras substâncias orgânicas para o desenvolvimento de embalagens, com grande potencial para redução de resíduos plásticos.
Pesquisas com alimentos também são desenvolvidas pelo laboratório de Microbiologia e Bioquímica, que, a partir do cultivo de microalgas, estuda a aplicação em alimentos e o desenvolvimento de novos produtos. Assim, no estande do laboratório, é possível ver biscoitos e bolos com a presença de microalgas.
Já em outro instituto da FURG, o de Oceanografia, também há pesquisas que envolvem alimentos. Os visitantes da feira podem provar uma planta aquática, a Salicórnia (que é também conhecida como aspargo do mar). Seu cultivo é estudado na Estação Marinha de Aquacultura (EMA), que também estuda o cultivo camarões, buscando melhorias.
Medição do derretimento de geleiras
A preocupação ambiental também está presente em pesquisa que une a Oceanografia e a Computação. O professor Guilherme Tomaschewski Netto, cuja formação é em Computação, desenvolveu o doutorado no Programa de Pós-graduação em Oceanologia, com orientação do professor Jorge Arigony. O método tradicional para medir o derretimento de geleiras era baseado em comparação em períodos de tempo longos, como por exemplo um ano. Com os conhecimentos em computação, Guilherme desenvolveu um sensor que possibilita acompanhar o derretimento das geleiras a distância e compreender quais são os períodos em que há maior derretimento e que fatores influenciam no degelo. O calor, destaca, é um deles. Os visitantes da Fitec podem conhecer o protótipo do equipamento usado nas geleiras da Patagônia.
Plásticos na eletrônica
Em dois estandes, o Instituto de Matemática, Estatística e Física mostra a impressão de componentes em impressora 3D e também o reaproveitamento de plástico como insumo para a impressora. Trata-se do projeto Eletrônica Sustentável. Há várias aplicações feitas com a reciclagem de materiais que seriam descartáveis, como por exemplo, robôs, sensores, entre outros.
Robótica e inteligência artificial
Diversas aplicações da pesquisa em robótica estão presentes na feira. São produções do grupo de Automação e Robótica Inteligente (Nautec). Uma delas é o projeto chamado AutoCERES, que busca a automatização do processo de pulverização na agricultura familiar. Reunindo a estrutura de um pulverizador com câmeras e também peças feitas em impressora 3D, o AutoCERES busca melhorar o uso dos produtos na agricultura. Ao invés de largar o produto em todas as saídas do pulverizador, o sistema mapeia e só libera o componente da pulverização quando detecta a presença de área plantada. E também marca as áreas que já foram pulverizadas, para evitar a repetição. Assim, tem potencial para economia na agricultura familiar, a baixo custo e com controle por aparelho celular.
Outro projeto de inovação em robótica é o Hydrone. Trata-se de um drone, aparelho com câmera que voa, mas, à diferença dos drones tradicionais, este também mergulha. O projeto envolve uma parceria entre a FURG e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Do lado de fora do shopping, num dos chafarizes, é possível encontrar robôs simulando inspeções aquáticas, embaixo da água, controlados por controle de videogame. É o projeto Netuno, também desenvolvido no Nautec.
Já do lado de dentro, outro projeto de robótica é o Ocelus, desenvolvido com patrocínio da Petrobras, para a soldagem automatizada e autônoma.
Visitantes da Fitec também vão encontrar robôs circulando pelos corredores do shopping. São resultado do trabalho do FURGBOT, que envolve o desenvolvimento de robôs que participam de competições internacionais de futebol de robôs. O mesmo grupo trabalha também, em parceira com Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no desenvolvimento de um robô humanóide.
A aplicação da pesquisa também observa questões de saúde. O projeto de Robótica Assistiva busca a reabilitação corporal de pacientes, com o auxílio da robótica. Um braço robotizado está em exibição, e também uma simulação computadorizada de como o aparelho funciona.
Engenharia e sustentabilidade
Com foco em energias sustentáveis, as pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Interação Fluido Estrutura, da Escola de Engenharia, simulam, em laboratório, ondas, para medir sua energia, e também o vento (na feira, dá para ver como é feito o uso do vento para a produção energética). Entre os projetos, um de média duração busca o desenvolvimento de uma plataforma para o cultivo de mariscos em alto mar, usando a energia produzida pelas ondas e pelo vento. Mas o grande objetivo das pesquisas, explica o professor Valdir Terra Pinto, é atender a projetos de baixa demanda energética, com o foco em sustentabilidade.
Pesquisa e extensão no automobilismo
O projeto FURG Motor Sport reúne mais de 20 alunos de Engenharia Mecânica e Engenharia de Automação para a produção de veículo off-road para competições. Esses veículos são conhecidos como baja, ou minibaja. Eles usam pouca potência mas são desenvolvidos para atuar em terrenos acidentados e vencer obstáculos, com alta performance. Os estudantes participam das competições promovidas pela Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil) e o desenvolvimento leva à aplicação de muito estudo e prática nas áreas de engenharia envolvidas.
Programação de domingo
Neste domingo, 16, além de todos os estandes com as pesquisas e projetos inovadores, a programação do último dia da Fitec inclui uma palestra sobre Tecnologia Social com o professor da Unicamp Renato Dagnino. A atividade acontece das 14h às 15h no espaço Talks da Inovação. Em seguida, às 15h, doutorandos da FURG apresentam suas teses em 180 segundos, focando no aspecto inovador. Nos estandes, a apresentação vai das 11h às 20h.