Elas na feira - histórias de mulheres: Cleuza Maria Sobral Dias

“As histórias são importantes. Muitas histórias são importantes”, disse Chimamanda Adichie, na conferência O perigo da história única, no TEDGlobal 2009. Inspirada pela escritora nigeriana e em sintonia com o tema escolhido pela 45ª Feira do Livro da FURG – histórias de mulheres, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da universidade apresenta o projeto Elas na feira, iniciativa que mostra relatos de (sobre)vivências femininas. Com uma câmera fotográfica e um gravador, captamos universos e o estar no mundo feminino pelas vozes de mulheres que passam pelo evento. O resultado é esta série de perfis singulares, que pode ser acompanhada aqui.

Cleuza Maria Sobral Dias

A Cleuza criança brincou muito. Porque eu morava, aqui em Rio Grande mesmo, na Domingos de Almeida com Henrique Pancada, quando nós tínhamos ali uma prainha da lagoa que hoje já não existe mais. Eu saía de casa e todo dia eu ia brincar ali na lagoa, o pai construía alguns barquinhos... Então, eu brinquei muito, aproveitei muito essa beleza que tem a cidade do Rio Grande, né? A água, a água da lagoa, o Bosque também, que era uma região muito bonita da cidade e a gente não tem mais hoje; tinham dunas e tinha uma prainha da lagoa onde íamos fazer piquenique. Fui uma criança que brincou muito. Ingressei na escola bastante cedo, com seis anos ingressei na primeira série, e sempre fui muito dinâmica, muito falante.

“Tem muita coisa ainda que eu quero realizar”.

Eu tenho medo de não conseguir realizar todos os projetos e sonhos que ainda tenho. Tem muita coisa ainda que eu quero realizar. E às vezes eu fico pensando: será que eu consigo chegar a tudo? E não são só projetos profissionais, são pessoais também, então é só isso, esse medo de não dar tempo. Eu tenho ainda um tempo de gestão na universidade e depois eu vou me aposentar, porque eu já tenho uma história na educação, a minha vida profissional é educação – fui professora alfabetizadora muito tempo, até chegar na universidade – e eu já tenho tempo de me aposentar. Então devo terminar a gestão, provavelmente eu me aposente e vá fazer na universidade alguns projetos, porque eu gosto, eu gosto de trabalhar com a extensão. E o meu futuro eu penso isso, assim: diminuir um pouco o ritmo de trabalho, que é muito intenso há muitos anos, desenvolver mais projetos de extensão, aproveitar um pouco mais das oportunidades que a vida me dá, com meus netos, com meus filhos. Eu sou vó, tenho quatro netos, eu quero poder aproveitar um pouco mais com meus netos; poder escolher algumas coisas que eu possa fazer, com mais tranquilidade. Eu quero uma vida um pouco mais calma, não de calmaria, mas um pouco mais tranquila, de mais escolhas. Mas eu não quero abandonar o trabalho que eu gosto, junto com a sociedade, junto com a comunidade, junto com a educação. Mas não sei bem ainda, ao certo.

“Sabedoria”.

Eu sempre penso assim: o saber é o que a gente vai construindo. Os saberes são diferentes, os de cada um. Diferente do que é o conhecimento. A sabedoria, a experiência, que gera essa sabedoria, e que me faz parar para pensar nas tomadas de decisões, isso foi muito importante para mim. Também o reconhecimento como mulher. Isso é algo que marca a minha trajetória profissional e de vida; eu fui a primeira mulher reitora da universidade, mulher educadora, pedagoga, reitora. Isso marca, sem dúvida nenhuma. E contribuiu muito para esse saber que eu fui construindo. Isso vai ficar para mim, fica na minha história, como superação. Superação por ser mulher ocupando esse lugar. E ser acolhida, isso é muito bom: ser acolhida pelas pessoas e ter o trabalho reconhecido. Também o meu reconhecimento dos meus limites. Da superação dos desafios, mas dos limites que cada um de nós tem, mas sempre procurando no trabalho coletivo fazer o melhor. A minha equipe, fica também isso de bom, de ter construído equipes que junto comigo e com o vice-reitor, que vem acompanhando já a segunda gestão. E acreditar no projeto da gente, perceber que acreditam no projeto. Não é na Cleuza, mas é no projeto que nós viemos ao longo defendendo, dessa universidade que é mais plural, mais inclusiva, mais afirmativa. E que é tão difícil. É um desafio. Mas é bom saber que as pessoas acreditam nisso e nos ajudam a concretizar esse projeto.

Da Cleuza de hoje para a Cleuza criança:

Ah, Cleuza, continua sendo assim como tu és: falante, muito ativa, continua querendo descobrir tudo. Continua admirando a água, admirando as coisas bonitas, continua brincando muito, não desiste dos teus sonhos de criança e cresce como adolescente da mesma forma como tu cresceu, imaginando que tu tens um potencial para sempre buscar os teus projetos.

Foto: Daniel Correa

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