Elas na feira - histórias de mulheres: Aline Mendes Lima

“As histórias são importantes. Muitas histórias são importantes”, disse Chimamanda Adichie, na conferência O perigo da história única, no TEDGlobal 2009. Inspirada pela escritora nigeriana e em sintonia com o tema escolhido pela 45ª Feira do Livro da FURG – histórias de mulheres, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da universidade apresenta o projeto Elas na feira, iniciativa que mostra relatos de (sobre)vivências femininas. Com uma câmera fotográfica e um gravador, captamos universos e o estar no mundo feminino pelas vozes de mulheres que passam pelo evento. O resultado é esta série de perfis singulares, que pode ser acompanhada aqui.

Aline Mendes Lima – 34 anos

Sou mãe de uma menina de um ano e quatro meses. Desde que ela chegou, passamos a ver o mundo de outra forma. Nos reeducamos. É muita responsabilidade. Queremos que ela seja uma pessoa que interfira no mundo de uma forma boa, que ela mude o mundo para melhor. Acabamos revendo as coisas que a gente faz por causa dela. Muda tudo. Na nossa sociedade, ser mãe é muito difícil. É uma sociedade muito machista. Meu companheiro divide muitas tarefas comigo. Não tem essa de eu te ajudo, não. Ele divide. Em muitos casos, ficamos sobrecarregadas. Sobra pouco tempo para sermos mulher.

“É um ser que depende de ti o tempo inteiro. E isso, para a mulher, é muito forte”.

É a segunda vez que visitamos a Feira do Livro. Queremos que ela veja coisas diferentes, com atividades culturais, para que ela seja uma pessoa com agir no mundo bacana. Com a maternidade, primeiro, fiquei assustada. Depois, acabei me adaptando à ideia. É um ser que depende de ti o tempo inteiro. E isso, para a mulher, é muito forte. O corpo muda, os hábitos também. Quando chego do trabalho e vejo que ela abre os braços, que estava me procurando, me esperando, é sinal que a gente faz a diferença na vida de alguém. Com as minhas amigas, tento desconstruir essa ideia de maternidade perfeita. Somos mulheres e nada é perfeito. Não conseguimos. Às vezes, estamos cansadas, perdemos a paciência, tem vezes que queremos estar lendo um livro. Eu só consigo pensar em livros para crianças. Os livros que eu leio são para crianças, para ela.

“A mulher tem que, cada vez mais, ser protagonista”.

Não precisamos ser angelicais. Erramos, também. A mulher tem que, cada vez mais, ser protagonista. Não podemos abandonar a nossa personalidade. Tentamos educar a nossa filha de uma maneira muito livre. Certo dia, disseram que ela era um menino. As pessoas estão acostumadas com meninas de vestido e laçarote. E ela estava à vontade, com bermudinha e camisetão para poder correr. Queremos que ela seja livre, não criar padrões de comportamento. E isso, às vezes, vem da própria família, que julga não ensinarmos o jeito certo de uma menina sentar. Que ela faça o que quiser. Se ela quiser jogar futebol, ela vai jogar. Se ela quiser ser bailarina, ela vai ser. Mas sabemos que o mundo que ela está crescendo é muito machista. Pode ser que esse comportamento faça com que ela sofra preconceito, que ela sofra estranhamento. É um diálogo difícil. É uma construção.

Foto: Karol Avila

Conheça as histórias anteriores:

Elas na feira - histórias de mulheres: Maria Alvina Madruga Goulart

Elas na feira - histórias de mulheres: Débora Amaral

Elas na feira - histórias de mulheres: Amanda Dias Lima Lamin

Elas na feira - histórias de mulheres: Maria Carpi

 

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