Elas na feira - histórias de mulheres: Maria Carpi

“As histórias são importantes. Muitas histórias são importantes”, disse Chimamanda Adichie, na conferência O perigo da história única, no TEDGlobal 2009. Inspirada pela escritora nigeriana e em sintonia com o tema escolhido pela 45ª Feira do Livro da FURG – histórias de mulheres, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da universidade apresenta o projeto Elas na feira, iniciativa que mostra relatos de (sobre)vivências femininas. Com uma câmera fotográfica e um gravador, captamos universos e o estar no mundo feminino pelas vozes de mulheres que passam pelo evento. O resultado é esta série de perfis singulares, que pode ser acompanhada aqui.

Maria Carpi – 79 anos

Como mulher, a minha lembrança primeira, é que tive uma grande mãe. Nasci em Guaporé, meus pais tinham um hotel, que ficava dentro de um pomar. Tive um pai preocupado com o social, com o contexto social, vindo da Itália, já adulto. E uma mãe com uma delicadeza enorme. Se ela tivesse que ajudar alguém e deixar de rezar, ela ajudava alguém, pois era a melhor reza. Eu estudei em Guaporé até o final do ginásio e, com a minha irmã, fui para Porto Alegre estudar no Colégio Bom Conselho. Minha irmã foi a primeira e até agora única presidente da OAB do Rio Grande do Sul. Agora, é conselheira federal. E eu sou a poeta da maturidade. Estudei direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), casei com um promotor de justiça, fomos para o interior e, ao voltarmos, me separei.

“Eu acredito que é um grande poema o estatuto da infância”.

Voltei a estudar, fiz concurso para a Defensoria Pública. Vivia no juizado da Infância, ajudei no trabalho de transposição do código de menores, para o grande Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente. Vi toda a transição da ideia de exclusão para a filosofia da proteção integral. Eu acredito que é um grande poema o estatuto da infância. Pela sociedade civil organizada, foi uma lei que veio do povo, da experiência com o povo e que ainda não foi aplicada inteiramente. Falta condições de apoio e mudança de mentalidade. Uma lei não faz mudança de mentalidade. A gente vai aprendendo o que ela traz de novo.

“Eu tenho amor pela lentidão”.

Eu não sou parâmetro para ninguém. Já tinha 15 livros escritos e só publiquei com 50 anos. Eu tenho um filho, novo, que já publicou até mais livros do que eu. Eu acho que cada poeta tem que ter a sua respiração com o mundo, com o ritmo. É a alternância que tem que ter dentro da literatura. Eu tenho amor pela lentidão. O amor a vida me motiva a escrever. Aos direitos humanos, a liberdade. Eu faço uma reflexão sobre isso. Eu não sou poeta de versos avulsos. Eu escolho um tema e desenvolvo como se fosse uma partitura musical. Assim eu fiz meus livros. Sempre são reflexões, eu giro em torno das reflexões. Eu quero juntar poesia e filosofia. Fazer a síntese da razão poética. Eu diria aos jovens leitores que, antes do livro, tem o amor à natureza, a cordialidade com a natureza e as pessoas, e depois a poesia vem. Depois do interesse pela vida. A poesia vem normalmente.

Foto: Karol Avila

Conheça as histórias anteriores:

Elas na feira - histórias de mulheres: Maria Alvina Madruga Goulart

Elas na feira - histórias de mulheres: Débora Amaral

Elas na feira - histórias de mulheres: Amanda Dias Lima Lamin

 

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