Elas na feira - histórias de mulheres: Amanda Dias Lima Lamin

“As histórias são importantes. Muitas histórias são importantes”, disse Chimamanda Adichie, na conferência O perigo da história única, no TEDGlobal 2009. Inspirada pela escritora nigeriana e em sintonia com o tema escolhido pela 45ª Feira do Livro da FURG – histórias de mulheres, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da universidade apresenta o projeto Elas na feira, iniciativa que mostra relatos de (sobre)vivências femininas. Com uma câmera fotográfica e um gravador, captamos universos e o estar no mundo feminino pelas vozes de mulheres que passam pelo evento. O resultado é esta série de perfis singulares, que pode ser acompanhada aqui.

Amanda Dias Lima Lamin – 19 anos

Eu sou de Itapema, Santa Catarina, mas agora eu moro em Santa Maria, onde estou cursando arquivologia. O amor me trouxe até aqui. Gosto muito de fazer artesanato, vender para as pessoas e ser prestigiada por isso. Não conhecia a praia do Cassino, achei linda. Como boa amante da leitura, passei pela Feira do Livro. Tudo que é conhecimento, nunca é demais. Gosto de ler sobre história, sobre o que passou e o que se tem agora, no presente. Meus pais apoiaram minha decisão de viver através da arte. Eles gostam bastante dos meus trabalhos.

“E, mesmo com todo cuidado, já me aconteceu de ser seguida por homens, caminhando nessa mesma rua”.

Todas temos dificuldades. Somos seres humanos, assim como os homens, mas o perigo é bem maior para nós, mulheres. Lembro de várias vezes, descendo a rua de casa, às vezes nove horas da noite e correndo de medo. A rua era longa e escura, com um bar bem na esquina. Quando comecei a sair, na adolescência, voltava um pouco mais tarde, sempre tinha o desespero de saber se alguém voltaria comigo. O desespero de enfrentar tudo sozinha. Na caminhada, rezando Pai Nosso e Ave Maria. E, mesmo com todo cuidado, já me aconteceu de ser seguida por homens, caminhando nessa mesma rua. O cara aumentar o passo, ter que andar bem mais rápido, sair correndo e ele também. Sair gritando. A gente que gosta de viajar, por exemplo, é complicado pegar uma carona. Pegar carona com um desconhecido. Infelizmente, os homens acham que podem fazer o que bem quiserem com as mulheres, que elas são inferiores a eles. Infelizmente, já chegaram propostas nojentas, indecentes, enquanto estamos vendendo os nossos trabalhos. Acham que só porque estamos ali, vendendo o nosso trampo, estamos precisando muito de grana e que estamos desesperadas por qualquer dinheirinho que vai entrar. Propostas para ter na cama, sabe? Inadmissível.

“Estamos aqui para ter espaço, como eles”.

Quanto a essa opressão, espero que as filhas das minhas amigas não passassem pelas mesmas coisas que eu passei na infância. Qual a mulher que não sente medo de sair na rua, sozinha, à noite, ouvir passos atrás e ficar aliviada quando é uma mulher e com medo quando é um homem? Não quero que as meninas e crianças de hoje passem por isso no futuro. Os homens tem que parar de ser assim, eles precisam de educação. Desde pequeno, são incentivados a acreditar que a mulher está ali para servi-los. E não é assim que as coisas funcionam. Estamos aqui para ter espaço, como eles.

Foto: Karol Avila

Conheça as histórias anteriores:

Elas na feira - histórias de mulheres: Maria Alvina Madruga Goulart

Elas na feira - histórias de mulheres: Débora Amaral

 

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Amanda Dias Lima Lamin

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Assunto: Arquivo