Elas na feira - histórias de mulheres: Carla Rosangela Trindade e Silva

“As histórias são importantes. Muitas histórias são importantes”, disse Chimamanda Adichie, na conferência O perigo da história única, no TEDGlobal 2009. Inspirada pela escritora nigeriana e em sintonia com o tema escolhido pela 45ª Feira do Livro da FURG – histórias de mulheres, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da universidade apresenta o projeto Elas na feira, iniciativa que mostra relatos de (sobre)vivências femininas. Com uma câmera fotográfica e um gravador, captamos universos e o estar no mundo feminino pelas vozes de mulheres que passam pelo evento. O resultado é esta série de perfis singulares, que pode ser acompanhada aqui.

Carla Rosangela Trindade e Silva - 46 anos

Sou de Rio Grande. Nascida e criada em Rio Grande. Nasci no bairro Rural que agora acho que mudou de nome. Meu pai era dono de uma oficina e a minha mãe era doméstica. Tive uma infância pobre normal. Eu gostava muito de estar na volta dos meus parentes. Minha vó morava bem próximo da minha casa. Eu sou a neta mais velha então eu me criei na volta de tia, tio, primos... Então, a nossa família era bem fechada assim. A gente brincava mais entre nós. Os meus tios mais novos regulam mais ou menos com a minha idade. Eu tive dez tios e os dois mais jovens são próximos de mim.

“Família é a base de tudo pra mim.”

A minha família significa tudo. É a minha base. Eu fui criada na volta de avós. Avó materna, avó paterna. Minha mãe, meu pai. Meu pai era muito conhecido na comunidade. Todo mundo conhecia ele, então a gente era muito protegido. A gente era muito conhecido, assim, na rua e muito protegido. Família é a base de tudo pra mim. Tenho dois filhos. Um de 23 anos e o outro de 12 anos.

A minha adolescência foi um pouco difícil depois que meus pais se separaram. A minha mãe foi trabalhar fora e eu tive que cuidar dos meus irmãos. Eu sou a irmã mais velha, então tive que cuidar dos mais novos. Quando meus pais se separaram é que começou a dificuldade. Não pude estudar muito porque tive que cuidar da casa e dos meus irmãos. Então, foi um pouco difícil.

“A religião pra mim é um prazer”

O que me traz felicidade hoje é estar na volta da minha família. Eu sou muito familiar. Eu gosto de estar na volta de tia, tio. Meus avós não estão mais aí, meus pais também não. Mas tenho minhas tias mais velhas, meus tios. Meus filhos. Os sobrinhos que estão vindo agora, novos.

Sou da religião de matriz africana, a religião pra mim é um prazer. É mais do que uma religião, é uma cultura. Então to sempre imersa na religião afro, a família. É o que me dá mais prazer hoje.

“Quero, se possível, voltar a uma faculdade.”

Eu tenho sonhos, objetivos. Agora, realizei um sonho, que meu filho se formou em Direito, o de 23 anos. Agora quero formar o mais novo, que quer ser médico, vamos ver. Eu acho que pro jovem negro, diferente de mim que não tive muita oportunidade de estudar... Mas pro jovem negro agora é o estudo, é a base, é o que te deixa apto pra vida. Então quero formar meus dois filhos. Quero deixar eles aptos. Quero se possível, voltar a uma faculdade. Tenho vontade de fazer História ou Psicologia. Então ainda quero voltar a uma faculdade. E estar sempre ajudando, servindo. Eu acho que nós mais velhos... Eu não sou mais velha, mas sou adulta, não me considero velha ainda. Mas eu acho que nós somos exemplo pros mais jovens então eu quero estar sempre apta pra poder ser exemplo pros meus mais jovens. Pra contribuir pra minha família, pros meus mais jovens que estão vindo. Estar com saúde pra poder fazer isso. Esses são meus sonhos.

“Guerreira”

Eu sou uma mulher negra então a gente nasce lutando contra o racismo, contra a desigualdade desde que se enxerga como gente. Desde que sai ali da proteção da mãe e do pai. Então [uma palavra que me defina] eu acho que é guerreira. Eu sempre fui muito guerreira, lutei muito sempre pelos meus objetivos. Agora luto pelos objetivos dos meus filhos, da minha família, dos meus jovens. É guerreira. Me considero uma guerreira.

“E a gente tem que ter orgulho de onde a gente veio, do que a gente é.”

Pras pessoas, em geral... Eu daria [um conselho] pros jovens negros, que é a minha preocupação. Eu acho que vocês jovens negros deveriam tentar ficar aptos, ler sobre a sua história, a sua cultura. A nossa história, a nossa resistência dentro do Brasil é muito bonita, é muito forte. E a gente tem que ter orgulho de onde a gente veio, do que a gente é. A gente tem que lutar, tem que se unir mais. Se gostar.

Eu acho que é pros jovens: estudar, ler, entender a sua raça, a sua etnia e ter orgulho dela. Acho que é isso que eu tento deixar de conselho pros mais jovens. Que pra nós, na minha época, era muito mais difícil a leitura. Hoje vocês têm internet, é só procurar. Nós não tínhamos. Era só a oralidade que os mais velhos passavam pra nós. Hoje vocês têm a oralidade dos mais velhos, mas tem todo esse meio pra procurar a nossa história contada por nós mesmos, e verdadeira.

 

Foto: Jaira Duarte

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