Elas na feira - histórias de mulheres: Seiko Nomiyama

“As histórias são importantes. Muitas histórias são importantes”, disse Chimamanda Adichie, na conferência O perigo da história única, no TEDGlobal 2009. Inspirada pela escritora nigeriana e em sintonia com o tema escolhido pela 45ª Feira do Livro da FURG – histórias de mulheres, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da universidade apresenta o projeto Elas na feira, iniciativa que mostra relatos de (sobre)vivências femininas. Com uma câmera fotográfica e um gravador, captamos universos e o estar no mundo feminino pelas vozes de mulheres que passam pelo evento. O resultado é esta série de perfis singulares, que pode ser acompanhada aqui.

Seiko Nomiyama

Nasci em Curitiba, no Paraná, mas os meus pais são japoneses. Fui para a escola com sete anos e não sabia falar português. Foi difícil no começo, claro. Nós temos uma cultura um pouco diferente, então tive dificuldades na adaptação, tive poucos amigos, mas amigos que tenho até hoje. Eu era quietinha, as feições são diferentes... os olhos, os cabelos, o jeito. E a criançada ficava olhando, fazendo perguntas.

“Eu queria ajudar todos os dias”.

Os japoneses têm o pensamento muito comunitário. Queremos ajudar, fazer as coisas juntos e, às vezes, você parece muito bobo por isso. Lembro que uma professora da escola brigou comigo. Todos os dias eu queria ajudar a menina da minha sala que tinha paralisia infantil a subir as escadas. Eu queria ajudar todos os dias. E um dia ela me xingou. Eu fiquei chateada, porque eu não estava fazendo nada de ruim. Eu ficava pensando o quanto era difícil para a menina. Ela não conseguia correr, subir escada. Depois disso, eu esperava a professora pedir a minha ajuda (risos).

“O espírito comunitário está sempre em mim”.

Sempre gostei da área da saúde. No começo, queria ser veterinária. Gosto muito de animais, mas não consigo lidar muito bem com sofrimento, tenho muita pena. Acabei indo para a área da saúde humana. Fiz um curso Técnico em Laboratório de Análises clínicas. Gosto do ambiente. E foi aí que aprendi a me comunicar com as pessoas. Trabalhei em um grande hospital público de Curitiba, me adaptei a conversar com a equipe, pacientes, familiares, outros profissionais. Foi a parte de adaptação mais difícil. Eu era muito reservada, quieta e tive que perder o receio de falar com as pessoas. Continuei na área da saúde, fiz graduação em Enfermagem e trabalho na área. Cheguei a Rio Grande por que meu esposo é professor universitário. Moramos em Curitiba, Tocantins, Capão da Canoa, Pelotas e, agora, Rio Grande. A cada lugar, uma adaptação. Gostamos bastante de área rural. De ir para o Povo Novo ou para a zona rural de Pelotas. O espírito comunitário está sempre em mim. Nem sempre é bem entendido, mas eu preservo, mesmo assim. Temos que aprender a dosar. Você não pode se doar muito e o tempo todo. Facilmente esqueço as minhas coisas pensando nos outros. É um aprendizado.

“É esse tipo de valor que ele tem que ter. Ele precisa de brinquedo, de brinquedos eletrônicos, mas ele precisa mais desses valores”.

Ensino ao meu filho de 7 anos o cuidado com os animais, e ele gosta muito.Temos cachorro, ele cuida, gosta. E quando resgatamos na rua filhotes para cuidar, ele acorda às seis da manhã comigo para dar medicação. Ele é muito parceiro. É esse tipo de valor que ele tem que ter. Ele precisa de brinquedo, de brinquedos eletrônicos, mas ele precisa mais desses valores. De conduta, de cuidado com os animais, as pessoas, com a natureza. Esperamos um dia poder visitar o Japão, mas para passear, para o meu filho conhecer. 

Foto: Karol Avila

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